
Nailton Reis é Neuropsicólogo clínico em Cuiabá CRP 18/7767
“Nunca você sem mim.” O título do livro de Analba Brazão Teixeira resume o que se repete em Mato Grosso: homens que, ao perderem a parceira, entendem que perdem a si mesmos — e respondem matando e se matando.
O estado liderou o ranking em 2024, com 47 feminicídios, e já acumula 35 casos até agosto de 2025. Dentro desse universo, há um padrão específico que o livro descreve: o feminicídio-suicídio.
• Em 2023, segundo dados de imprensa e do Anuário de Segurança, Mato Grosso registrou 5 casos dessa natureza.
• Em 2024, o número subiu para 8 casos, consolidando o estado no topo nacional.
• Em 2025, até junho, levantamos 10 ocorrências reportadas: sendo 3 casos confirmados de feminicídio-suicídio, 1 tentativa de suicídio após o crime, 2 situações em que o autor tentou forjar suicídio da vítima, e 1 caso ainda em apuração, além dos demais feminicídios gerais contabilizados pelo Observatório Caliandra e pelo MPE.
Esse duplo silêncio — matar e depois se matar, ou tentar apagar o crime simulando suicídio — mostra que não estamos diante apenas de crimes individuais, mas de um padrão social de masculinidade violenta.
Temos políticas de proteção. A Ronda Maria da Penha funciona. O botão do pânico é eficaz. As medidas protetivas são ferramentas legais relevantes. Mas todas essas ações chegam tarde: atuam sobre o efeito.
A CPI do Feminicídio poderia ser o dispositivo capaz de mudar a rota — se se colocasse em diálogo com as ciências. Poderia convocar especialistas para entender as múltiplas formas de constituição das masculinidades e propor políticas para os homens antes que eles se tornem agressores. Mas, atravessada pela política, essa possibilidade parece cada vez mais distante.
E o que sobra é o “mais do mesmo”: leis que, embora importantes, não previnem o que o livro denúncia e as estatísticas confirmam. Sem ciência, continuaremos enxugando o chão do crime.
Se você ou alguém que você conhece está em sofrimento ou pensando em suicídio, procure ajuda agora:
• CVV – 188 (ligação gratuita, 24h/7)
• cvv.org.br (chat, e-mail e atendimento online)
• Emergência: 190 (Polícia) ou 192 (SAMU)
• Violência contra a mulher: 180 (Central de Atendimento à Mulher)
Cuidar da vida é responsabilidade de todos nós.
Nailton Reis é Psicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT
CRP 18/7767