A biomédica Caroline Fernandes, 24, manifestou indignação diante do laudo emitido pela Perícia Oficial e Identificação Técnica de Mato Grosso (Politec-MT), que apontou a possível inimputabilidade do engenheiro-agrônomo Daniel Bennemann Frasson, acusado de assassinar a facadas sua mãe, Gleici Keli Geraldo de Souza, 42. O documento indica que o réu poderia não ter plena capacidade de compreender seus atos em razão de um suposto quadro depressivo.
Responsável pela guarda da irmã mais nova, de 7 anos, que também foi ferida no ataque, Caroline publicou uma série de textos questionando diretamente as conclusões da perícia e pedindo que o caso não seja tratado sob o argumento de incapacidade mental. “Como alguém que se formou, que trabalhava, que já teve carteira assinada, que tem um CNPJ, que já tirou passaporte, que dirigia, que fazia todas as atividades rotineiras possíveis, pode ser dito como ‘mentalmente insano’?”, escreveu.
Ela ironizou as justificativas apresentadas pela defesa. “Estava com depressão, tomava remédios, surto psicótico, aplicou Ozempic. Às vezes parece uma piada de muito mau gosto”, publicou.
A jovem descreve comportamentos do padrasto que, segundo ela, demonstrariam plena lucidez antes do crime. “Quando ia fazer churrasco, beber, fazer festa, ou discutir com a minha mãe por qualquer coisinha, estava em plenas faculdades mentais. Quando ele fazia planilhas no computador sobre tudo o que ela gastava para depois cobrá-la, ele era são”, relatou.
Caroline também aponta episódios de manipulação emocional. “Quando se afastava dela emocionalmente quando algo legal acontecia, ao invés de comemorar junto, não era ‘doente’. Quando a culpa de tudo era da minha mãe ou de qualquer outra pessoa, menos dele.”
Nos textos, a biomédica rebate a alegação de que o réu não teria consciência no momento do crime. “Maldade, crueldade, egoísmo, inveja. Não são doenças. São escolhas”, afirma. Em seguida, questiona a versão apresentada no exame: “Como alguém incapaz de compreender o que estava fazendo abraça a própria filha pedindo desculpas por ter assassinado a mãe dela… e a apunhala com 4 facadas nas costas, deita ela e dá mais 4 no peito? Como alguém em surto manda mensagem para o irmão contando o que fez? Conversa no telefone? Silêncio em depoimento não é surto. É autodefesa.”
Ela reforça que não banaliza transtornos psiquiátricos. “Usá-los como saída para justificar um crime tão cruel é, no mínimo, um insulto.”
Irmã sobreviveu
O crime ocorreu em 24 de junho, em Lucas do Rio Verde, e chocou o estado. Gleici dormia ao lado da filha de 7 anos quando foi atacada com 16 facadas; a criança também foi ferida e passou 22 dias na UTI. Hoje, vive sob os cuidados de Caroline.
Em seus relatos, a jovem detalha as sequelas deixadas na irmã sobrevivente. “Minha irmã tem medo de dormir sozinha, de dormir primeiro que eu, medo de acordar depois de mim. Me pede para guardar os talheres antes de dormir. Precisa de acompanhamento psicológico, psiquiátrico, cardiológico, neurológico, nefrológico… Toma medicação controlada. Precisou reaprender a comer e a andar”, escreveu.
Caroline afirma que seguirá buscando justiça. “O mínimo que minha mãe merece é que o assassino pague pelo que fez. O mínimo que minha irmã merece é estar segura… saber que existiu justiça para ela e nossa mãe. Isso não acabou.”
Laudo e andamento do processo
Após o ataque, Daniel Bennemann Frasson tentou tirar a própria vida, foi socorrido e acabou transferido para o Centro de Ressocialização de Sorriso, onde permanece preso preventivamente e medicado.
A Politec concluiu que o acusado pode ser inimputável — ou seja, que no momento do crime não teria plena capacidade de entender o caráter ilícito do ato. Com o laudo finalizado, o processo volta a tramitar, e a Justiça iniciará a fase de instrução, com oitiva de testemunhas e do próprio réu. Ao término dessa etapa, será definido se Frasson irá a júri popular ou se será submetido a uma medida de segurança, caso prevaleça o entendimento de incapacidade penal.
A defesa havia solicitado o incidente de insanidade mental alegando “perda de realidade, depressão e sintomas de síndrome do pânico”.
