
Uma funcionária estrangeira denunciou uma representante da Embaixada do Zimbábue no Brasil por assédio moral e sexual, além de condições análogas à escravidão. Segundo relato da vítima, contratada inicialmente como cozinheira, ela foi obrigada a prestar serviços íntimos à diplomata, sofreu restrições de liberdade e controle rígido de alimentação. A Justiça concedeu medida protetiva à mulher.
Abusos e assédio
A denúncia, acatada pelo 2º Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Brasília, aponta que a funcionária foi submetida a uma rotina de violações desde o início de sua estadia na residência da representante diplomática, localizada no Lago Sul, área nobre da capital federal.
Contratada para cozinhar e limpar, a jovem afirma que acabou sendo obrigada a realizar massagens corporais, inicialmente nas pernas e costas. Com o tempo, os pedidos da diplomata passaram a envolver massagens nos seios e áreas íntimas, sob a justificativa de tratamento para feridas. A vítima também relata ter sido forçada a auxiliar em banhos e em outras tarefas de higiene pessoal da mulher.
Controle e restrição de liberdade
Segundo a funcionária, havia controle rigoroso sobre sua alimentação. Em uma ocasião, após pegar um pedaço de pão, teria sido repreendida aos gritos. Ela ainda denunciou que não tinha liberdade para sair da casa e que, em certos momentos, precisou dormir nas escadas do jardim, esperando o amanhecer.
A jovem afirma ter adoecido gravemente três vezes enquanto trabalhava na residência, mas não recebeu autorização para ir ao hospital. Em um desses episódios, só conseguiu atendimento médico após ser socorrida por outras pessoas ligadas à embaixada.
No dia 9 de abril, após diversos episódios de abuso, a vítima tentou suicídio ingerindo veneno. Foi socorrida por um motorista de aplicativo e levada ao hospital. Acredita-se que, após o episódio, a representante diplomática registrou o desaparecimento da funcionária para evitar suspeitas.
Documentos retidos e investigação
De acordo com o relato, a diplomata ainda está de posse dos documentos pessoais da funcionária, como passaporte, identidade, cartão de febre amarela e comprovantes de vacinação. A vítima afirmou que, desde sua chegada ao Brasil, vivia sob constante pressão e controle, sendo chamada a qualquer hora do dia ou da noite.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) foi acionado e acompanha as investigações. A Justiça determinou uma medida protetiva que proíbe a diplomata de se aproximar da vítima a menos de 300 metros, além de vedar qualquer contato físico ou digital. O descumprimento da ordem pode resultar em prisão preventiva.
Resposta da embaixada
A reportagem entrou em contato com a Embaixada do Zimbábue no Brasil em busca de posicionamento sobre o caso. Até o momento, não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestações da representação diplomática.