
Entre 2023 e 2025, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou pelo menos 15 encontros oficiais com organizações suspeitas de participação em um esquema bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). As reuniões ocorreram nos ministérios da Previdência Social, do Desenvolvimento Social e no próprio INSS, conforme levantamento do portal Poder360.
As entidades, entre elas AAPB, Aapen, AAPPS Universo, ABCB/Amar Brasil, Ambec, Apdap Prev, CAAP, Conafer, Contag, Sindnapi e Unaspub, estão sob investigação da operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal em abril de 2025. O inquérito apura um desvio estimado em R$ 6,3 bilhões, envolvendo cobranças indevidas de aposentados e pensionistas, sem a devida autorização.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) liderou a lista de convites, tendo participado de 13 das 15 reuniões registradas. A entidade afirma que os encontros serviram para discutir “segurança nos descontos associativos” para segurados rurais. Contudo, auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou justamente a Contag como a responsável pela maior retenção irregular de valores, fato omitido em comunicados públicos da organização.
Outro caso que chama atenção envolve o Sindnapi, sindicato de aposentados ligado a Frei Chico, irmão do presidente Lula. A CGU identificou a entidade entre as que impuseram descontos não autorizados nas aposentadorias. O levantamento revelou que 97,6% dos aposentados prejudicados relataram nunca ter autorizado tais cobranças. O montante subiu de R$ 706 milhões em 2022 para R$ 2,8 bilhões em 2024. Os pedidos de cancelamento de descontos somaram 192 mil apenas em abril de 2024.
A operação Sem Desconto resultou na execução de 211 mandados de busca e apreensão, além de seis prisões temporárias. Entre os atingidos está Alessandro Stefanutto, presidente do INSS e nome de confiança do ministro Carlos Lupi, afastado do cargo junto a outros cinco altos funcionários. Os crimes investigados incluem corrupção, falsificação de documentos, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Diante da crise, o governo anunciou a suspensão dos Acordos de Cooperação Técnica com as entidades investigadas e bloqueou novos descontos em folha de pagamento. Em nota oficial, informou que aposentados e pensionistas que identificarem cobranças indevidas poderão solicitar a exclusão pelo aplicativo Meu INSS — medida que, na prática, transfere ao cidadão a responsabilidade de fiscalizar aquilo que deveria ser controlado pelo Estado.
A sequência de encontros oficiais com entidades sob suspeita e o avanço das investigações lançam dúvidas sobre os critérios éticos e de governança da atual gestão. Num país onde a corrupção insiste em sobreviver, as velhas práticas parecem apenas ter mudado de endereço.