O alagoano Erick Venceslau descobriu o câncer de mama aos 29 anos após apalpar um nódulo e decidir realizar exames. Além do impacto da doença em plena juventude, o diagnóstico acabou marcando um divisor de águas em sua vida: foi durante o tratamento que ele compreendeu ser um homem trans.
“Eu sempre tive questões com o meu gênero. Eu refleti sobre isso a minha vida inteira. E aí veio o câncer”, contou Erick em entrevista à CNN. “Eu fiz a mastectomia, me olhei no espelho e falei: ‘Caraca, não era só um problema com os meus peitos’. Ia muito mais além e eu estava tentando negar. A partir dali, eu não vi mais tristeza em me olhar no espelho, eu vi um recomeço.”
Durante o tratamento, que incluiu mastectomia dupla, quimioterapia e, atualmente, imunoterapia, Erick também iniciou sua transição de gênero. “Eu acho que o câncer veio como um ponto decisivo que fez eu refletir que eu não tinha mais tempo para viver uma vida que não era a minha. Eu quero viver a vida que eu mereço”, afirmou.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama atinge cerca de 73.610 pessoas por ano no Brasil. Embora a doença seja mais comum entre mulheres cisgênero, especialistas alertam que a população trans também deve manter atenção aos riscos e realizar exames preventivos.
Pesquisas da Universidade de Amsterdã apontam que mulheres trans têm risco 46 vezes maior de desenvolver câncer de mama em comparação a homens cis, devido ao uso de estrogênio e medicamentos antiandrogênicos utilizados na transição de gênero.
Já entre homens trans que não realizaram a retirada das mamas, a recomendação é a mesma feita a mulheres cis: mamografia anual a partir dos 40 anos, conforme diretrizes do Ministério da Saúde e das sociedades médicas.
Em casos de nódulos suspeitos, como o que levou Erick ao diagnóstico, é fundamental procurar atendimento médico e realizar exames de imagem e biópsia para confirmar a presença de tumores.
“Hoje eu entendo que o câncer não foi o fim, foi o começo da vida que eu sempre quis viver”, resume Erick.
