
Recentemente foi gravado na cidade de Rondonópolis o documentário “Um Dia às Cegas” que mostra a experiência e os desafios enfrentados pela influenciadora digital Isabella Fabris, do perfil 066 Dicas. A obra convida a pensar em como seria se, do nada, perdesse a visão, se tudo o que é colorido hoje, ficasse sem cor, como seria? Além também de ter como objetivo inspirar mudanças na infraestrutura e nas atitudes da sociedade em relação à acessibilidade, criando um ambiente mais acolhedor e justo para todos.
Isabella ficou 24 horas sem enxergar nada, e precisou executar as principais tarefas do dia a dia, como comer, se vestir, atravessar ruas, trabalhar, estudar e passear. Para ajudar nesta experiência a influencer contou com a ajuda de três pessoas com deficiência visual que atuaram como guias e mentores, Débora Camila de Oliveira, palestrante e acadêmica do curso de jornalismo pela UNEMAT (Universidade Estadual de Mato Grosso), Cristiano Garcia de Souza, atleta profissional e atual Presidente da Associação Rondonopolitana de Deficientes Visuais – ARDV, e Gessica Oliveira, psicológa e massoterapeuta.
O filme é uma exploração das barreiras que as pessoas com deficiência visual enfrentam diariamente e um convite para que o público se coloque no lugar delas. “Um Dia às Cegas”, tem direção e roteiro de Paula Marques, e produção de Lucas Machado Carpanezi, criador do projeto e responsável por transformar vivências pessoais em uma obra de impacto social. Segundo Lucas, a ideia do documentário nasceu a partir de um episódio marcante em sua vida:
“ Em 2014, estava no centro da cidade quando vi uma mulher com deficiência visual cair na rua após sair da Associação de Deficientes Visuais (ARDV). Agi por instinto, parei minha moto atravessada no meio da rua e corri para ajudá-la. Aquilo me impactou profundamente. Algum tempo depois, também quase perdi parte da visão ao ser atingido por uma fagulha de solda, onde por pouco poderia perder 40% da minha visão. Por alguns dias, experimentei a angústia de enxergar mal. Essas vivências despertaram em mim o desejo de fazer algo maior”, conta o produtor.
Inspirado por essas experiências, Lucas decidiu tirar o projeto do papel com apoio da Lei Paulo Gustavo, por meio da Prefeitura Municipal de Rondonópolis.
“Não queríamos que o documentário fosse só sobre sofrimento das pessoas cegas, porque a maioria dos conteúdos já faz isso — colocam as pessoas cegas como vítimas incapazes de trabalhar. Muito pelo contrário, nosso propósito desde o começo era construir um filme empoderando as pessoas com deficiência visual, mostrando a capacidade, o cotidiano, os sentimentos, a força e a inteligência que existe nesse público. Produzimos com muito respeito, cuidado e responsabilidade”, afirma Paula Marques.
Além da Instituição Louis Braille e da ARDV, o filme também foi gravado em diversos locais da cidade, como no Restaurante Favorito, M4 Academia, Pizzaria D’tália — incluindo a tradicional festa agropecuária Exposul. A câmera acompanha situações reais e provoca uma reflexão poderosa: quem realmente está vendo a vida como ela é?
O filme foi lançado gratuitamente no YouTube, e se desdobra em 10 episódios emocionantes e imperdíveis. Além disso, está em negociação para ser exibido nos telões da 51ª Exposul.
Lucas, que também atua em projetos sociais e já dirigiu dezenas de campanhas de marketing de impacto regional, afirma que o objetivo agora é ampliar o alcance da obra por meio de parcerias com emissoras de TV, rádio e anúncios digitais:
“A inclusão só se torna real quando quem enxerga começa a ver com o coração. Esse é o nosso maior objetivo”, conclui.
Sobre a Lei Paulo Gustavo
A Lei Paulo Gustavo (195/2022) é um incentivo federal para o desenvolvimento de espaços e atividades culturais. Um dos objetivos com a lei é o fortalecimento da cena cultural regional, ao garantir à população o acesso a atividades artísticas diversificadas e de qualidade. O nome da lei homenageia o ator, humorista, diretor e roteirista Paulo Gustavo (1978-2021), falecido em decorrência da covid-19.
