
A viagem oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, que tinha tudo para reforçar os laços diplomáticos e econômicos entre os dois países, acabou marcada por tensão interna. Irritado com ministros de sua comitiva após críticas veladas à primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, Lula deu um recado duro ao próprio governo e se disse incomodado com o vazamento de informações sigilosas da reunião com o presidente chinês, Xi Jinping.
O episódio ocorreu na terça-feira (13), quando Lula foi questionado em coletiva de imprensa, em Pequim, se Janja teria se dirigido a Xi para tratar sobre o TikTok. O presidente negou que a primeira-dama tenha feito qualquer comentário inadequado e aproveitou para repreender ministros que, segundo ele, deveriam “pedir para sair” caso estivessem incomodados.
“Fui eu quem fez a pergunta, não foi a Janja. Se um ministro estivesse incomodado, deveria pedir para sair”, disparou Lula, sem citar nomes, mas referindo-se diretamente à comitiva que o acompanhava.
Além da irritação com o episódio, o petista condenou o vazamento da conversa restrita. “A primeira coisa que eu acho estranho é como essa pergunta chegou à imprensa, porque estavam só meus ministros lá. Então, alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa que aconteceu durante o jantar — algo muito, muito confidencial e pessoal”, afirmou.
No Planalto, a avaliação é de que o episódio expõe o governo ao “fogo amigo” e cria um clima de desconfiança entre os aliados, alimentando inclusive a oposição. A situação também descumpre uma orientação direta da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), que pede para evitar a chamada “república do off” — expressão usada pelo ministro Sidônio Palmeira para se referir ao vazamento de informações extraoficiais.
A comitiva brasileira na China era formada pelos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Rui Costa (Casa Civil), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Alexandre Padilha (Saúde), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Frederico de Siqueira Filho (Comunicações), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário).
A crise de bastidor agora deve exigir articulação cuidadosa para recompor o ambiente político interno e conter novos desgastes públicos.