
Com a chegada das estações mais frias, o pôr do sol ganha novos tons, principalmente nas áreas urbanas. Os céus alaranjados que marcam o fim do dia no outono e inverno não são apenas uma beleza natural — são também um retrato da poluição e de fenômenos atmosféricos específicos desse período.
Mais vermelho, menos azul
O tom vibrante do céu ao entardecer se intensifica nessa época por três fatores principais: o caminho mais longo percorrido pela luz do sol no início da manhã e fim da tarde, a inversão térmica e a poluição atmosférica.
Durante o dia, especialmente entre o meio da manhã e o meio da tarde, as ondas curtas de luz — como o azul e o violeta — se espalham mais facilmente, deixando o céu com sua cor azul característica. Mas, ao nascer e se pôr do sol, a luz precisa atravessar um trajeto maior na atmosfera. Nesse percurso, as ondas curtas se dispersam e não chegam aos olhos humanos, enquanto as ondas longas — vermelho, laranja e amarelo — conseguem atravessar, tingindo o céu com essas cores.
Inversão térmica e poluição intensificam tons
“Durante o outono e inverno, há uma maior ocorrência de inversão térmica, quando uma camada de ar quente se instala acima do ar frio próximo ao solo”, explica o meteorologista Fernando Mendes, do Simepar. Esse fenômeno impede que os poluentes subam, concentrando a poluição na camada mais baixa da atmosfera. O resultado: mais partículas suspensas no ar que refletem e intensificam as cores quentes no céu.
A situação se agrava em regiões metropolitanas, onde o tráfego intenso, obras e outras atividades urbanas elevam a concentração de material particulado no ar. “Essa poluição pode provocar ou agravar problemas respiratórios e cardiovasculares, especialmente em crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas”, alerta Mendes.
Fumaça de queimadas também interfere
Outro fator agravante é o aumento dos incêndios florestais nessa época. Com menos chuvas e a vegetação seca, o risco de fogo cresce. A fumaça dessas queimadas pode viajar por longas distâncias e escurecer o céu, tornando-o cinzento — muitas vezes confundido com nebulosidade.
Para acompanhar essas situações, o Simepar desenvolveu a plataforma VFogo, que monitora focos de calor em tempo real. A ferramenta usa dados de satélites nacionais e internacionais, processados com técnicas de inteligência artificial. Só em 2025, até agora, já foram identificados 258 focos de calor no Paraná. Em 2024, foram 2.704.
Atenção aos números
Nem todo foco de calor é incêndio, mas quando há suspeita, o Corpo de Bombeiros é acionado. Em 2024, os incêndios florestais representaram 10,8% de todas as ocorrências da corporação no Paraná — um aumento de 109% em relação a 2023.