“Tem que falar bem do Brasil”. Foi assim, com a habitual autoconfiança, que o empresário Joesley Batista, dono da maior exportadora de proteína animal do mundo, respondeu ao ser questionado sobre seu encontro privado com Donald Trump na Casa Branca, ocorrido há um mês.
A reunião, que até então permanecia restrita aos bastidores, integrou uma estratégia paralela de aproximação diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos. Empresários e representantes do agronegócio atuaram em sintonia com interlocutores de ambos os governos para reaproximar Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, nas palavras do próprio petista, “estavam de mal” sem nunca terem se encontrado.
“Tem que falar bem do Brasil, coisa que todo brasileiro deveria fazer. Infelizmente, nem todo mundo fala bem do Brasil”, disse Joesley ao Estadão, durante visita a Jacarta, na Indonésia, onde acompanhou a comitiva presidencial em reuniões com o presidente Prabowo Subianto.
O empresário brincou com a coincidência política de sua gravata vermelha — cor associada tanto ao Partido dos Trabalhadores (PT) quanto ao Partido Republicano americano. “Assim fico bem nos dois países”, ironizou.
Da Lava Jato à mesa presidencial
A presença dos irmãos Joesley e Wesley Batista em uma mesa de negociações presidenciais simboliza o renascimento político e econômico da família, que chegou a ser protagonista de delações premiadas na Operação Lava Jato. Agora, com acesso direto a Lula e espaço privilegiado em agendas diplomáticas, os empresários voltam ao tabuleiro global.
Em Jacarta, os dois foram os únicos representantes do setor privado a sentar-se à mesa com Lula e Subianto durante encontros reservados e no almoço oficial no Palácio Merdeka.
Na ocasião, assinaram três memorandos de entendimento com o governo indonésio, nas áreas de energia, proteína animal e infraestrutura, com participação das empresas JBS, Âmbar Energia e Fluxus Holding.
Os documentos preveem cooperação em projetos de transição energética, produção local de alimentos e investimentos conjuntos com o fundo soberano da Indonésia. É incomum que acordos privados recebam o mesmo destaque de atos oficiais entre governos — e isso, por si só, já indica o peso da reabilitação dos Batista.
Conexão com Washington e os bastidores de Trump
O papel de Joesley nos bastidores também se fortaleceu com o “tarifaço de 50%” imposto por Trump ao Brasil, medida que prejudicou as exportações nacionais de carne.
Após o episódio, o empresário teria se reunido com o republicano e aliados da Casa Branca, incluindo a chefe de gabinete Susie Wiles, buscando amenizar o impacto das tarifas sobre o setor.
Os irmãos Batista mantêm amplas operações nos EUA, onde a JBS doou US$ 5 milhões ao comitê de inauguração de Trump — gesto político que rendeu portas abertas em Washington.
Mesmo sem confirmar novos encontros, Joesley foi categórico: “A gente conhece muita gente lá”.
Entre negócios e política
Enquanto Joesley volta ao Brasil, o irmão Wesley Batista deve seguir até a Malásia, onde Lula e Trump finalmente se encontrarão — o primeiro encontro direto entre os dois presidentes.
O petista tentará convencer o americano a rever as tarifas sobre o gado brasileiro e suspender punições impostas a autoridades do Supremo e do Executivo.
Um acordo formal é considerado improvável, mas o gesto de diálogo já é visto como avanço.
Na Indonésia, Lula destacou que o comércio bilateral de US$ 6,3 bilhões ainda é “muito pouco” e pediu que o intercâmbio suba para US$ 20 bilhões.
A meta inclui ampliar exportações de soja, milho, café e frango, além de estreitar cooperação em defesa, energia e biocombustíveis.
De Jacarta ao futuro
Os Batista também têm planos para o Sudeste Asiático.
Segundo Wesley, o grupo pretende investir na produção local de proteína animal e pescados, com foco em camarão, tilápia e carne bovina, mirando o mercado muçulmano e usando a estrutura da JBS na Austrália como base logística.
“Vamos explorar oportunidades de investimento conjunto com o fundo soberano”, disse o empresário, que projeta US$ 7 bilhões em vendas na região.
Em meio a gravatas vermelhas, jantares de Estado e acordos bilionários, os irmãos que já foram símbolo da Lava Jato agora ocupam, discretamente, o centro da diplomacia econômica brasileira.

Inf. Estadão
