
O juiz Gilberto Lopes Bussiki, da 9ª Vara Cível de Cuiabá, autorizou a liberação parcial de valores que estavam depositados em juízo em razão da disputa pela posse da Fazenda Atlântida, uma área de 780 hectares localizada no município de Novo São Joaquim (MT) e avaliada em R$ 40 milhões. A disputa envolve a idosa Wilma Therezinha Destro Fernandes, de 87 anos, e o ex-presidente da OAB-MT, Renato Gomes Nery, assassinado em julho de 2024.
Segundo a decisão, Wilma terá direito à liberação de R$ 1.072.162,44, valor correspondente a 47,6% do total de R$ 2.252.439,73 que estavam depositados judicialmente. O montante havia sido pago antecipadamente pelo arrendamento da área para a safra 2025/2026.
A liberação dos recursos foi autorizada após a exclusão do espólio de Renato Nery do polo ativo do processo. A saída ocorreu com base em um acordo judicial firmado enquanto o advogado ainda estava vivo. No pacto, o espólio reconheceu não ter mais interesse na ação, admitindo a validade do contrato anteriormente contestado. O espólio representava originalmente 68,3% da pretensão.
Apesar disso, a Justiça manteve bloqueado o restante do valor até que haja definição sobre a participação de outros autores na disputa. Ao autorizar a liberação parcial, o juiz Bussiki considerou a vulnerabilidade econômica de Wilma Therezinha e princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana.
Na mesma decisão, o magistrado também aceitou o ingresso de Valdeci Antônio Guadagnin como assistente litisconsorcial no processo movido por Wilma. Guadagnin firmou com a idosa um contrato de cessão de direitos possessórios sobre parte da fazenda. Embora Wilma tenha se oposto à participação dele, alegando invalidade do contrato, o juiz entendeu que a discussão será analisada no decorrer da ação e que a presença do terceiro garante o contraditório e a ampla defesa.
Terras em disputa e assassinato
A disputa pela Fazenda Atlântida é apontada pela Polícia Civil como um dos principais motivos do assassinato de Renato Nery. O imóvel foi repassado a Nery e a seu sócio, o advogado Luiz Carlos Salesse, como pagamento de honorários advocatícios após uma longa disputa judicial iniciada nos anos 1980. A propriedade havia sido adquirida pela família do empresário Cesar Jorge Sechi em 1988, quando o imóvel já estava em litígio.
Apesar de decisões judiciais favoráveis aos advogados, o conflito fundiário se prolongou por décadas e passou a incluir outros interessados na posse das terras, como Wilma Therezinha, que afirma que o imóvel pertenceu ao seu falecido marido.
Cesar Sechi e sua esposa, Julinere Goulart Bastos, são apontados como mandantes do assassinato de Nery, executado em um atentado armado. A Polícia Civil concluiu que o crime teve como pano de fundo o conflito pela posse da área milionária.