
O lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, preso desde novembro de 2023 por ordem do ministro Cristiano Zanin, do STF, está considerando a possibilidade de firmar um acordo de colaboração com a Procuradoria-Geral da República (PGR). A informação foi confirmada por fontes com conhecimento das investigações, que ressaltam que a tratativa ainda está em fase inicial e passou a ser cogitada nas últimas duas semanas.
Transferido de Mato Grosso para o presídio federal em Brasília em março deste ano, Andreson é apontado como peça-chave em um suposto esquema de venda de decisões judiciais e informações privilegiadas nos bastidores do Superior Tribunal de Justiça (STJ), além de manter relações com desembargadores dos tribunais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A investigação teve início após o assassinato de um advogado, ocorrido em dezembro de 2023, em Mato Grosso. O crime desencadeou o afastamento de dois desembargadores pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e revelou, por meio de mensagens extraídas do celular da vítima, indícios da participação de Andreson em intermediações suspeitas no STJ.
Em sua decisão, Zanin destacou que as investigações da Polícia Federal revelaram uma rede de contatos entre lobistas, juízes, assessores de ministros e membros de tribunais estaduais. Para o ministro, Andreson desempenhava “papel crucial” no funcionamento desse esquema.
Apesar da gravidade das acusações, nenhum ministro do STJ é formalmente investigado até o momento — apenas servidores dos gabinetes. No entanto, apurações em curso no Supremo Tribunal Federal atingem os gabinetes de quatro ministros: Og Fernandes, Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Paulo Moura Ribeiro.
A operação que investiga o caso, chamada Sisamnes (em referência a um juiz persa punido por corrupção), apura crimes como organização criminosa, corrupção, exploração de prestígio e violação de sigilo funcional. Segundo a PF, valores eram cobrados para influenciar decisões judiciais que beneficiassem partes interessadas, além do repasse ilegal de informações sigilosas.
Isolamento, saúde e denúncia de constrangimento
Em fevereiro, a defesa de Andreson apresentou um recurso ao Supremo pedindo sua transferência para outro presídio na região de Cuiabá, alegando isolamento excessivo e tratamento inadequado de saúde. O lobista passou por cirurgia para obesidade e tem diabetes, o que motivou o pedido de dieta especial.
O pedido foi negado pela Primeira Turma do STF, embora um juiz de Mato Grosso tenha autorizado a entrada de alimentação específica. Na ocasião, a própria defesa reconheceu o risco de o réu ser extorquido por facções criminosas em penitenciárias comuns.
Ao ordenar sua transferência para Brasília, o ministro Zanin afirmou que a medida visava garantir a segurança pessoal do preso. No novo presídio, Andreson continua buscando acesso a dieta especial e tratamento médico.
Suspeita de enriquecimento ilícito
Além das denúncias sobre o Judiciário, Andreson também é alvo de investigação por lavagem de dinheiro. Seu patrimônio teria aumentado mais de 3.000% entre 2014 e 2015, um dado que levantou suspeitas da PF.
A PGR, ao ser procurada, afirmou que não comenta “supostos acordos de colaboração”, citando o caráter sigiloso do procedimento. Já o advogado de Andreson, Huendel Rolim, declarou que só se manifesta nos autos do processo, que também estão sob sigilo.
Enquanto isso, a colaboração com a PGR permanece como uma carta em aberto para o lobista, que, mesmo isolado, pode se tornar uma figura central para esclarecer o funcionamento de um dos esquemas mais sensíveis já investigados no Judiciário brasileiro.