
Com lágrimas nos olhos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um forte discurso nesta quarta-feira (6) durante reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), ao afirmar que a fome pode voltar a assolar o Brasil se ele for derrotado nas eleições de 2026. Segundo Lula, “qualquer coisa” que assumir o governo sem compromisso com os mais pobres será suficiente para destruir as políticas de combate à insegurança alimentar.
“Se a gente deixar o governo e entrar uma coisa qualquer nesse país, a fome volta outra vez. Porque não é prioridade [para outros]. Não deveria ser apenas um compromisso do governo, deveria ser uma obrigatoriedade constitucional”, declarou.
Em tom ainda mais incisivo, Lula afirmou que um presidente que permita a volta da fome no Brasil deveria ser “decapitado”, numa metáfora para expressar o que considera a gravidade da omissão diante da miséria.
Memórias da fome: infância e juventude
Lula também compartilhou relatos pessoais sobre os efeitos da pobreza em sua vida. Segundo o presidente, foi apenas aos 7 anos de idade que comeu pão pela primeira vez, pois na região onde nasceu, além da escassez de dinheiro, não havia sequer comércio que vendesse o alimento.
“Onde nasci nem tinha dinheiro para comprar pão, nem tinha lugar para comprar pão”, lembrou.
Mais adiante, falou sobre o período em que trabalhou jovem na indústria Villares, e relatou episódios em que colegas o convidavam a comer durante o expediente. Envergonhado por não ter o que comer, Lula recusava dizendo que não estava com fome, mesmo desejando o sanduíche de mortadela oferecido por outros trabalhadores.
“Cada vez que colocavam o sanduíche de mortadela na boca, eu imaginava mordendo aquele sanduíche. Mas ficava com vergonha de dizer que estava com fome. Isso aconteceu várias vezes.”
Discurso com recado político
O discurso, apesar de emotivo, teve tom claramente político. Lula advertiu que as conquistas sociais podem ser revertidas caso o país escolha “qualquer coisa” nas urnas. O recado é direcionado à polarização crescente no Brasil e à possível volta de forças políticas alinhadas ao bolsonarismo ao Planalto.
Ao final, o presidente reforçou que sua luta contra a fome é pessoal, institucional e histórica:
“A gente vai mudando aos poucos, mas ainda está longe de mudar tudo. Não é uma coisa fácil.”