
As tarifas aplicadas pelos Estados Unidos ao Brasil se tornaram um ponto-chave no cenário político, segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. Para ele, a medida chegou em um momento estratégico para o governo Lula, que passou a utilizá-la como elemento central em sua comunicação.
Antes mesmo dessa ofensiva americana, o Planalto já vinha moldando uma narrativa voltada à justiça tributária, identificando como opositores os chamados “BBB”: bets (especuladores), bilionários e bancos. A chegada das tarifas reforçou esse posicionamento, oferecendo um “inimigo” externo e fortalecendo o discurso de soberania nacional.
De acordo com Meirelles, o episódio minou um dos principais argumentos da oposição — a acusação de que o governo é “o das taxas” — e colocou setores da direita em uma posição desconfortável, já que defender medidas que prejudicam o país entra em conflito com o nacionalismo.
A situação também expôs divisões internas na direita, com discordâncias entre figuras como Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, além de um distanciamento de setores do agronegócio, um dos mais impactados pelo chamado “tarifaço”.
Para o analista, o contexto permitiu que Lula retomasse protagonismo político. Até então, segundo ele, o presidente estava “apagado” e sem um porta-voz forte dentro do governo. Com a retomada da pauta da justiça tributária e o embate contra as tarifas, Lula voltou a se projetar como líder nacional e articulador central da narrativa governista.