
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta quinta-feira (3) com a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, em sua residência no bairro Constitución, em Buenos Aires. Cristina cumpre prisão domiciliar após condenação por corrupção e recebeu Lula com autorização judicial. O encontro, com duração de cerca de 50 minutos, foi classificado como reservado e humanitário, sem presença de imprensa.
A Justiça argentina autorizou a visita na manhã do mesmo dia. O juiz responsável pelo caso, Jorge Gorini, alertou Cristina para evitar qualquer manifestação que pudesse perturbar a ordem pública no bairro. Ainda assim, o encontro teve forte simbolismo político.
Cristina publicou fotos do momento nas redes sociais e afirmou que a visita de Lula “foi muito mais do que um gesto pessoal: foi um ato político de solidariedade”. Ela destacou que ambos foram vítimas de perseguições judiciais com viés político — o chamado lawfare. A ex-presidente relembrou o período em que Lula foi preso no Brasil antes de retornar ao poder.

Durante a publicação, Cristina voltou a criticar duramente o governo de Javier Milei, que classificou como autoritário. Ela denunciou o que chamou de “terrorismo de Estado de baixa intensidade”, citando a prisão de mulheres militantes e uma escalada repressiva iniciada em junho sob ordens da ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e do deputado José Luis Espert.
A ex-mandatária também acusou o atual governo argentino de promover um esvaziamento da democracia, afirmando que a liberdade de imprensa está ameaçada — citando um relatório da ONG Repórteres Sem Fronteiras — e lembrou o caso do fotógrafo Pablo Grillo, que ficou em coma após cobrir um protesto.
Em tom irônico, Cristina criticou a política energética de Milei, que tem sido alvo de protestos diante do aumento das tarifas de gás. “Che, Milei… com essa onda de frio, o que você faz? Mete mais 6,4% nas contas de gás?”, escreveu ela. “Estufas apagadas e você dizendo que fez um bom trabalho no Mercosul…”
A reunião ocorreu no dia seguinte à Cúpula do Mercosul, também realizada em Buenos Aires, onde Lula assumiu a presidência temporária do bloco até o fim de 2025. No evento, Lula e Milei se cumprimentaram brevemente, sem sinais de aproximação.
Cristina Kirchner foi condenada a seis anos de prisão e à inabilitação para cargos públicos no processo conhecido como “Vialidad”, que investigou fraudes em contratos de obras públicas durante seus governos. Desde então, está em regime de prisão domiciliar, sob restrições de visitas.
Durante o encontro, apoiadores da ex-presidente se reuniram do lado de fora do prédio e ovacionaram Lula. Em declarações anteriores, o presidente brasileiro já havia reiterado sua amizade pessoal com Cristina, afirmando que ela vai além das funções políticas de ambos.