
Uma operação da Polícia Federal revelou um dos maiores esquemas de fraude em concursos públicos da história recente do Brasil. Conhecida como “máfia dos concursos”, a organização criminosa atuava em diversos estados e oferecia aprovações fraudulentas em certames de alto nível, incluindo o Concurso Nacional Unificado (CNU), a Polícia Federal e a Caixa Econômica Federal.
Segundo as investigações, o grupo tinha base em Patos (PB) e era liderado por Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso da corporação em 2021. A organização funcionava como uma empresa familiar, envolvendo irmãos, filhos, sobrinhos e cunhados.
Fraude de alto nível tecnológico
A PF identificou que os criminosos usavam tecnologia sofisticada para garantir as aprovações. Em alguns casos, candidatos recebiam implantes eletrônicos nos ouvidos, permitindo comunicação direta com os fraudadores durante as provas. Além disso, o grupo obtinha acesso antecipado aos gabaritos e utilizava dublês — pessoas treinadas para realizar as provas no lugar dos contratantes.
Os valores cobrados chegavam a R$ 500 mil por vaga, dependendo do concurso e do cargo, e podiam ser pagos em dinheiro, ouro, veículos ou até serviços odontológicos. Para lavar o dinheiro, eram utilizados depósitos em espécie, negociação simulada de imóveis e uma clínica odontológica pertencente a integrantes do grupo.
Estrutura familiar e rede criminosa
Além de Wanderlan, estão sob investigação seus irmãos Valmir Limeira de Sousa e Antônio Limeira das Neves, a cunhada Geórgia de Oliveira Neves e a sobrinha Larissa de Oliveira Neves. O filho de Wanderlan, Wanderson Gabriel Limeira, cuidava da parte técnica das fraudes.
Também participavam do esquema Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior, proprietário de uma clínica odontológica, e Thyago José de Andrade, conhecido como “Negão”, responsável pelos pagamentos e pelo financiamento de aprovações fraudulentas.
Provas e operação policial
Entre as evidências reunidas pela PF estão gabaritos idênticos, inclusive nos erros, entre candidatos de provas diferentes, algo considerado quase impossível por especialistas — comparável a “vencer 19 vezes seguidas na Mega-Sena”. Mensagens codificadas, áudios, comprovantes de pagamento e movimentações financeiras incompatíveis também foram apreendidos.
A Operação Última Fase, deflagrada em 2 de outubro, cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão em vários estados. Três pessoas foram presas — duas em Recife (PE) e uma em Patos (PB). A Justiça determinou ainda a suspensão da posse de aprovados por fraude e o afastamento de servidores suspeitos.
Defesa dos investigados
Os investigados negam as acusações e afirmam que não há provas concretas. As defesas afirmam que os clientes colaboram com as autoridades e que aguardam acesso aos autos do processo.
Enquanto isso, a PF segue ampliando as investigações, que podem atingir dezenas de concursos realizados entre 2015 e 2025, revelando um golpe sofisticado que coloca em xeque a credibilidade dos concursos públicos brasileiros.