
Mensagens obtidas pela revista Veja sugerem que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e delator no inquérito que investiga tentativa de golpe de Estado, pode ter mentido em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) e violado cláusulas do acordo de colaboração que firmou com a Justiça.
De acordo com o material revelado, Cid usou um perfil falso nas redes sociais para relatar a interlocutores que estava sendo pressionado a incriminar o ex-presidente e outros militares ligados ao governo anterior. Ele também acusou o ministro Alexandre de Moraes de ter “sentença pronta” contra ele, Bolsonaro, Braga Netto e Augusto Heleno.
As mensagens, trocadas entre janeiro e março deste ano pelo perfil @gabrielar702 no Instagram, mostram Cid descrevendo os bastidores das audiências e alegando tentativas de manipulação por parte de investigadores. Em uma das conversas, afirmou que “várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca” e que o objetivo seria condenar integrantes do núcleo militar bolsonarista. Cid ainda disse que, no STF, não haveria necessidade de provas, apenas de “narrativas”.
No interrogatório prestado ao Supremo, Cid negou uso de redes sociais e qualquer conversa fora dos autos sobre sua delação. Ao ser questionado sobre o perfil citado pela reportagem, hesitou e respondeu: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
A revelação das mensagens causou desconforto nos bastidores da defesa de Bolsonaro. O advogado Celso Vilardi, que atua no caso, levantou a hipótese de que Cid tenha rompido unilateralmente suas obrigações judiciais, ao manter contato com aliados e expressar desconfiança sobre o processo. Em outros trechos das mensagens, Cid classificou o ministro Alexandre de Moraes como “cão de ataque” e disse que “as petições dos advogados não adiantam nada”.
Se confirmadas as violações, o STF pode reavaliar a validade do acordo de colaboração premiada de Mauro Cid, com possibilidade de anulação dos benefícios concedidos. O episódio ainda reforça a narrativa da defesa de Bolsonaro, que acusa o processo de perseguição política e de ter conduzido a delação sob pressão.