
A equipe econômica do governo federal, liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estabeleceu para 2025 a meta de zerar o déficit das contas públicas. Contudo, o próprio arcabouço fiscal permite uma margem de tolerância de até 0,25% do PIB para o saldo primário — diferença entre receitas e despesas, sem considerar o pagamento de juros da dívida.
Apesar da promessa de responsabilidade fiscal, o cenário preocupa. O economista e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ecio Costa, afirma que o modelo criado pelo governo é frágil e ineficaz. “O arcabouço fiscal é uma mera peça ilusória, cheia de furos que são usados para gerar um déficit de R$ 300 bilhões adicionais nesse governo”, criticou.
Os números reforçam o alerta. Em 2024, a arrecadação de impostos de União, Estados e municípios atingiu 34,2% do PIB — a maior já registrada. Mesmo assim, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve fechar o ano com um rombo de R$ 30,2 bilhões, próximo ao limite permitido pela meta fiscal.
O peso da carga tributária recai, sobretudo, sobre o governo federal, responsável por 21,4% do PIB no último ano — alta de 1,5 ponto percentual em relação a 2023. A comparação internacional também é desfavorável. A média da carga tributária dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) foi de 33,9% em 2023. A França lidera com 43,8%, enquanto o Brasil chegou a 32,1% no mesmo ano, subindo 2,1 pontos percentuais em 2024 — mesmo sem integrar o grupo.
Para os especialistas, o problema não está na arrecadação, mas na expansão dos gastos públicos. “Mesmo batendo recordes de arrecadação e carga tributária, a conta continua não fechando”, avalia Costa. Segundo ele, a trajetória da dívida pública é preocupante.
Atualmente, a dívida bruta do governo geral — que inclui União, Estados e municípios — representa 77,5% do PIB. Desde o início do governo Lula, esse índice subiu 5,8 pontos percentuais, alcançando R$ 9,6 trilhões. A escalada, segundo economistas, ameaça a credibilidade do plano fiscal e expõe o país ao risco de novo desequilíbrio nas contas públicas.