
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
No auge de uma crise política envolvendo o pacote fiscal do governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, iniciou nesta segunda-feira (16) um período de férias. A decisão, respaldada por regras internas do banco de horas do governo, ocorre em meio à votação da urgência do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que busca derrubar o decreto executivo que aumentou o IOF — uma medida fundamental da equipe econômica para tentar equilibrar as contas públicas.
Durante a ausência de Haddad, o secretário-executivo Dario Durigan assume a liderança do Ministério da Fazenda. Embora o afastamento seja oficial e técnico, o movimento causa impacto político significativo, já que o principal responsável pela articulação da estratégia fiscal do governo deixa o cenário em um momento delicado, no qual o Congresso ameaça desfigurar parte do plano econômico.
As férias de Haddad, originalmente previstas para julho, foram antecipadas devido a questões técnicas. Em janeiro, o ministro cancelou seu descanso para lidar com o atraso na aprovação do Orçamento de 2025, e agora, com 28 dias de folgas acumuladas e pressão do sistema de banco de horas, optou por se ausentar em plena turbulência legislativa.
O momento, contudo, não poderia ser mais inoportuno. A votação da urgência do PDL pode permitir que a derrubada do decreto sobre o IOF ocorra ainda nesta semana. O Planalto já foi alertado de que, mesmo com a aprovação da urgência, líderes da Câmara discutem a possibilidade de votar também o mérito do projeto ainda hoje, antecipando uma derrota para a política fiscal do governo.
Fernando Haddad vinha sendo a principal voz na defesa da taxação sobre instrumentos financeiros como LCI e LCA, além de ser o eixo da reorientação da política fiscal para enfrentar a resistência do Congresso. Sua ausência neste momento de crise representa, ao menos simbolicamente, um desalinhamento estratégico. O governo continua buscando apoio, mas sem a presença de seu principal articulador na mesa de negociações.
Para tentar mitigar o vácuo deixado pelo ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu no fim de semana com o presidente da Câmara, Hugo Motta, e outros articuladores políticos no Palácio do Alvorada. A movimentação visa conter a votação do mérito do PDL, embora não existam garantias de sucesso diante da pressão parlamentar.