
Ana Barros é jornalista, assessora de imprensa e estrategista digital
POR Ana Barros
A saída da jornalista Eliane Cantanhêde da GloboNews, após 15 anos de análises políticas no canal, marca não apenas o fim de uma longa trajetória na emissora, mas também um momento simbólico para o jornalismo de opinião no Brasil. Embora a versão oficial fale em “comum acordo” e “novos projetos pessoais”, fontes de bastidores revelam que a demissão foi motivada por uma sucessão de polêmicas — a mais grave delas, um comentário considerado insensível sobre a guerra entre Irã e Israel.
Durante o programa Em Pauta de 20 de junho, Cantanhêde questionou, com um tom de espanto, como os mísseis iranianos poderiam cair em território israelense sem causar grandes mortes, dizendo: “E tem uma mortezinha daqui, outra dali…”. A fala repercutiu negativamente nas redes sociais e causou enorme desconforto na audiência e na própria GloboNews, que foi obrigada a emitir uma nota pública de desculpas.
O episódio reacende o debate sobre os limites da opinião no jornalismo — especialmente em coberturas que envolvem vidas humanas, conflitos armados e contextos geopolíticos sensíveis. Analistas e comentaristas têm, sim, liberdade para emitir juízo de valor, mas essa liberdade não pode ignorar a ética, o cuidado com a linguagem e a empatia com as vítimas.
No ambiente da TV ao vivo, onde a palavra tem força imediata e ampla repercussão, o cuidado redobrado é indispensável. Comentários como o de Cantanhêde não apenas banalizam a morte, mas ferem um princípio fundamental do jornalismo: o compromisso com a humanidade dos fatos.
A demissão da jornalista, nesse contexto, se apresenta como um gesto editorial claro da GloboNews em defesa de seus próprios limites éticos — e talvez um recado a outros profissionais que lidam com opinião como espetáculo. Num momento em que as fronteiras entre jornalismo e entretenimento se confundem com frequência, reafirmar o papel ético da imprensa é mais urgente do que nunca.
