Em entrevista à BBC News Brasil, o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro é “página virada” para Donald Trump. Segundo Shannon, o presidente norte-americano percebeu que havia sido mal informado ou induzido ao erro ao aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, e que não faz sentido manter o foco em Bolsonaro nas negociações atuais.
O diplomata aposentado explicou que a mudança de estratégia de Trump ocorreu após sinais claros de que o Brasil e suas instituições não cederiam. “A instituição brasileira em questão — o Supremo Tribunal Federal — deixou muito claro que iria continuar com a acusação e manter a proibição de Bolsonaro concorrer nas próximas eleições. Uma vez que isso ficou evidente, o que os Estados Unidos poderiam fazer?”, questionou Shannon.
A análise do ex-embaixador indica que Trump percebeu que insistir nas tarifas poderia ter impactos negativos nos consumidores e empresas americanas, tornando a medida politicamente e economicamente custosa. Shannon destacou que a relação bilateral agora deve se concentrar em questões econômicas, enquanto as sanções aplicadas contra ministros do STF e outras autoridades provavelmente serão mantidas.
O encontro entre Lula e Trump, previsto para este domingo (26/10) na Malásia, surge nesse contexto de ajuste de estratégias. O presidente brasileiro afirmou trabalhar com otimismo e buscar soluções para os impasses entre os dois países, sem estabelecer vetos ou limites de pauta. Trump, por sua vez, confirmou a intenção de se reunir com Lula e deixou em aberto a possibilidade de redução das tarifas “sob as circunstâncias certas”.
Shannon ainda ressaltou que a aproximação econômica pode ser facilitada por uma maior compreensão do setor privado americano sobre os efeitos do tarifaço no dia a dia das empresas e consumidores dos EUA, indicando um cenário de negociações mais pragmático e menos focado em antigos alinhamentos políticos.
