
Ana Barros é jornalista em Cuiabá
É por isso que a anistia precisa ser discutida com seriedade. Porque quem defende anistia não quer impunidade — quer justiça com equilíbrio, e não linchamento judicial com aplauso de torcida.
Ninguém aqui está defendendo quem quebrou, depredou ou cometeu crimes. O que se defende é algo básico: justiça justa, com provas, equilíbrio e respeito ao devido processo legal.
O que temos hoje, no entanto, não é justiça — é espetáculo político. Centenas de pessoas presas preventivamente por meses, condenações pesadas com base em vídeos genéricos, e uma narrativa única, incontestável, como se tudo já estivesse resolvido. Só que não está.
O caso da Ana Priscila Silva de Azevedo, por exemplo, é emblemático. Em depoimento à CPI, ela afirmou com todas as letras: “O vandalismo não foi feito pelos patriotas. Foram infiltrados, com certeza.” E mais: disse que viu uma polícia completamente inerte, sem contingente e com acesso facilitado à Praça dos Três Poderes. Se há algo a ser investigado a fundo, é isso.
Onde está Ana Priscila agora? Por que ela sumiu do noticiário? Por que suas falas não foram repercutidas com o mesmo peso das manchetes que a chamaram de “líder golpista”? Por que os vídeos dela dizendo que era para manter a paz e evitar confronto foram ignorados?
Há uma tentativa clara de jogar todos no mesmo saco: quem quebrou vidro, quem tirou selfie, quem caminhava pacificamente. Milhares de pessoas estão sendo condenadas com base em presunções coletivas, não em ações individuais. Isso é justiça? Ou é uma caça às bruxas moderna?
Não é defender vandalismo, é defender o mínimo de coerência jurídica. O Brasil já anistiou muito mais: ditadores, torturadores, corruptos notórios. Agora, nega anistia a pessoas que nem sequer têm prova de terem cometido atos violentos?
Se há culpados, que sejam responsabilizados com base em fatos, e não ideologias. Mas para quem foi levado de ônibus, ficou do lado de fora, ou sequer entrou nos prédios públicos, a pena está sendo maior do que para criminosos de colarinho branco.
É por isso que a anistia precisa ser discutida com seriedade. Porque quem defende anistia não quer impunidade — quer justiça com equilíbrio, e não linchamento judicial com aplauso de torcida.
Ana Barros é jornalista