
As principais juristas cotadas para a vaga deixada pelo ex-ministro Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF) têm manifestado frustração diante da possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicar mais um homem para a Corte. Entre os nomes mais comentados nos bastidores de Brasília estão o do advogado-geral da União, Jorge Messias; o do ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco; e o do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas.
A sensação entre as candidatas é de déjà-vu: “Nunca é o momento, nunca é a hora”, resume a defensora pública de São Paulo e vice-presidente da Associação das Mulheres de Carreira Jurídica, Mônica de Melo, sintetizando o sentimento de desânimo que percorre o meio jurídico feminino.
Nos bastidores do STF e do governo, a escolha de um homem é vista como praticamente certa. Messias é considerado um nome de confiança do Planalto, enquanto Pacheco conta com a simpatia de ministros como Flávio Dino, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes.
Para muitas mulheres do meio jurídico, o cenário reforça uma desigualdade histórica. “Não faz sentido uma composição tão desequilibrada na mais alta Corte do país”, afirmou uma das juristas cotadas, sob anonimato. Segundo ela, a adoção de critérios de proximidade política restringe as escolhas a um “universo masculino”, ignorando trajetórias sólidas de mulheres com mérito técnico e reputação ilibada.
Mônica de Melo reforça que a avaliação sobre candidatas mulheres é sempre mais rigorosa. “Para nós, sempre há um escrutínio maior. É frustrante perceber que, por mais que nos preparemos, a conjuntura ainda pesa mais do que a competência”, lamenta.
Entidades e movimentos sociais vêm tentando reverter esse quadro. Um abaixo-assinado com mais de 60 mil assinaturas já foi entregue ao governo, pedindo que Lula indique uma mulher ao Supremo. O documento destaca que, em quase 133 anos de história republicana, apenas três mulheres ocuparam cadeiras no STF — Cármen Lúcia, Rosa Weber e Ellen Gracie.
Para as juristas, a nova escolha presidencial será mais do que simbólica: será um teste real sobre o compromisso do governo com a equidade de gênero no mais alto tribunal do país.