
No imaginário popular, o termo “corno” costuma ser associado a situações de traição dolorosas e desconfortáveis. Em um contexto onde a dor e o estigma imperam, o ato de ser traído muitas vezes se torna um dos maiores tabus da sociedade. Mas, ao contrário do que muitos pensam, ser “corno” não é mais um peso para muitos brasileiros – ao contrário, tem se tornado um fetiche crescente e até um estilo de vida.
Este fenômeno ganhou tanto destaque que, nesta sexta-feira (25/4), o Brasil celebrou o Dia do Corno, uma data que, ao invés de reforçar o deboche, celebra um aspecto curioso da sexualidade: o desejo por “ser corno”. Se antes a traição era um tabu, hoje ela é, para alguns, uma fantasia, um fetiche e, para muitos, uma maneira de fortalecer laços afetivos e sexuais dentro de um relacionamento.
Fetiche Cuckold: O Prazer em Ver o Outro
Uma pesquisa recente da plataforma de sexo Sexlog revelou números surpreendentes sobre o fenômeno. O fetiche cuckold, no qual o homem sente prazer ao ver ou imaginar sua parceira transando com outro, tem se expandido consideravelmente no Brasil. Mais de 435 mil pessoas se identificam com essa prática, com 53% dos homens entrevistados relatando prazer ao assistir a cena ao vivo e 92% dizendo que a fantasia também os excita. Para muitos, o prazer está no elemento da entrega, da confiança e na quebra de padrões, criando uma experiência de intimidade única.
As mulheres também estão se aventurando nessa prática, com 21% expressando o desejo de viver a experiência de ser uma “hotwife”, como é chamado o termo para a mulher que é acompanhada por um parceiro interessado em vê-la com outro homem. Este interesse pelo fetiche parece ter consequências positivas nos relacionamentos: 89% dos participantes afirmam que a prática fortaleceu o vínculo com suas parceiras e 78% dizem estar em relações estáveis.
Cornos Sem Saber: O Caso da Infidelidade
Por outro lado, uma pesquisa realizada pela plataforma Ashley Madison revelou que o Brasil lidera a lista de países com maior taxa de casos extraconjugais, ao lado da Índia. Entre 13.000 entrevistados, 53% dos brasileiros admitiram já ter tido um caso fora do relacionamento, refletindo uma cultura mais permissiva em relação à infidelidade. Ao contrário do fetiche cuckold, onde há consentimento e busca por prazer, esses casos extraconjugais são muitas vezes ocultos, sem a aceitação do parceiro traído.
O Que é Cuckold?
O termo “cuckold”, derivado do pássaro cuco que engana outras aves para criar seus filhotes, designa aquele que sente prazer ao saber que sua parceira está com outro. De acordo com a sexóloga Alessandra Araújo, a prática pode envolver diferentes níveis de envolvimento emocional e sexual. Para alguns, a excitação vem da transgressão e da sensação de ser “traído com consentimento”, enquanto para outros, há um erotismo em torno do controle, da humilhação, ou até da submissão.
Como Praticar o Cuckold de Forma Saudável?
Para quem se interessa por esse fetiche, a sexóloga dá algumas dicas essenciais para garantir que a prática seja realizada de forma segura e consensual:
- Diálogo e consentimento: A comunicação é a chave. Conversar sobre os desejos, temores e expectativas de cada um é fundamental.
- Estabelecimento de limites: Defina o que é permitido e o que não é, e ajuste constantemente os acordos conforme as experiências acontecem.
- Respeito aos sentimentos: As fantasias podem gerar ciúmes, inseguranças ou até culpa. É importante estar atento à saúde emocional de todos os envolvidos.
- Cuidado com o terceiro envolvido (o “bull”): Deve ser alguém que respeite os limites acordados pelo casal e compreenda a dinâmica da relação.
- Segurança sexual: O uso de proteção e a realização de testes regulares para doenças sexualmente transmissíveis são fundamentais para garantir a saúde de todos.
- Validação pós-encontro: Após a experiência, é importante conversar sobre como cada um se sentiu, ajustar o que for necessário e validar os sentimentos de todos os envolvidos.
Conclusão
A relação com a traição, seja ela consentida ou oculta, tem mudado ao longo do tempo. O Dia do Corno não é apenas uma data para celebrar o humor sobre um tema tabu, mas também para refletir sobre como as dinâmicas sexuais e afetivas se transformaram, com muitos encontrando prazer e intimidade na transgressão consensual. Em uma sociedade cada vez mais aberta a novas experiências e sexualidades, o fetiche cuckold é apenas um exemplo de como o desejo humano pode se manifestar de formas variadas e surpreendentes.