O espetáculo propôs uma fusão entre música e dança que
dialoga com raízes nordestinas. Foto: George Dias
Na noite de 25 de outubro, no Teatro da UFMT, em Cuiabá, a Orquestra Sesi MT, sob a regência do maestro Fabricio Carvalho, e a Cia. Sesi de Dança apresentaram o espetáculo O Sertão Dentro de Nós, numa produção gratuita promovida pelo Sesi MT com o objetivo de democratizar o acesso à cultura no estado.
O espetáculo propôs uma fusão entre música e dança que dialoga com raízes nordestinas — cirandas, xotes, aboios e forrós — reinterpretadas pela técnica do jazz e pelas expressões corporais do balé.
Mas mais do que uma apresentação, os projetos representam um marco de transformação pessoal para os jovens participantes: bailarinas e músicos que encontraram na arte e na cultura uma nova forma de expressão, de futuro e de contar a própria história.
Da prática à paixão: jovens que se encontraram na orquestra e no balé
Britney Freire ingressou aos 16 anos no projeto da Orquestra, como aluna de violoncelo. “Lá eu tive essa vivência da música, de orquestra de alunos e estudo do violoncelo e com isso eu me apaixonei pelo instrumento e também pela música”. A trajetória revela como a oportunidade de integrar uma orquestra pode transformar o olhar de um jovem para seu próprio destino.
De forma semelhante, as bailarinas como Ana Luísa Falabretti e Laura Rufatto – que viajam semanalmente de Lucas do Rio Verde para Cuiabá para ensaiar – relatam suas vivencias com a dança.
“Eu amo dançar, eu amo participar do ballet. Eu sinto que no palco eu consigo realmente expressar aquilo que eu sou. Então, eu acho que vale a pena todo esse esforço para alcançar meu sonho”, aponta Ana.
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da toada. Foto: George Dias
Já Laura destaca que a dança é o meio pelo qual se conecta com a família, com as aspirações de seus pais, principalmente do pai, que é musicista, e com o sonho de realização. “Ele sonhava que eu tocasse algum instrumento e ver a minha mãe feliz também é uma realização”, completou Laura.
Educação artística como ferramenta de impacto social
De acordo com o gerente de Inovação e Cultura do Sesi MT, Fernando Pereira, “nosso propósito é oferecer à comunidade oportunidades gratuitas para prestigiar produções de qualidade e mostrar que, fora do eixo Rio-São Paulo, também é possível vivenciar grandes espetáculos. Mato Grosso é uma terra fértil para a arte e isso tem ficado em evidência”.
Para o coreógrafo da Cia Sesi de Dança, Yves Shinyng, a interlocução entre o tradicional e o contemporâneo — “transformamos em dança, música e poesia tudo o que o sertão ensina em silêncio: que a dureza da vida também pode ser beleza, e que da terra árida sempre nasce arte” — evidencia o papel social da arte como ferramenta de formação.
O espetáculo incorporou instrumentos típicos do forró e da toada — sanfona, zabumba, triângulo e flauta de pífano — e percorreu obras populares como Assum Preto (Elba Ramalho), Paraíso (Alceu Valença) e Vivendo de Brincar (Dominguinhos).
Para o maestro convidado da temporada da Orquestra, Fabricio Carvalho, a sinergia entre dança e música trouxe um concerto inesquecível, imprimindo em cada nota a arte de cantar o sertão. “A Companhia Sesi de Dança tem um papel fundamental na formação artística, enquanto a Orquestra Sesi se consolida como um dos principais grupos musicais do país. Esse encontro foi um convite para que cada um de nós sinta e reconheça o seu próprio sertão”, afirma.
O maestro acrescenta que o espetáculo é um tributo à força e à riqueza cultural do Nordeste: “Um espetáculo extremamente importante para a cultura brasileira, porque trouxe o melhor de uma região absolutamente rica, com todas as suas influências e características de um povo forte e corajoso. O repertório fez um passeio por diversos estilos, do forró à toada, incorporando instrumentos marcantes como sanfona, zabumba, triângulo e flauta de pífano. Um grande presente do Sesi para Mato Grosso e para o Brasil, valorizando a cultura nordestina e a arte nacional.”
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convidado da temporada Fabricio Carvalho.
Foto: George Dias
Muito além do palco: novos caminhos, novas vidas
Os projetos da orquestra e da companhia de dança não se limitam a eventos de encantamento, mas se ampliam para a formação de bailarinas e músicos de diversas regiões de Mato Grosso, com impacto direto na autoestima, no repertório cultural e nas perspectivas de futuro dos jovens envolvidos.
“A gente entende que a arte é uma ferramenta poderosíssima na transformação social e profissional. Tem muitas meninas que estão na companhia hoje que vieram de projetos sociais… então tem uma transformação de vida, faz com que elas comecem a ver a arte, a cultura de outra forma”, aponta Karol Knorst, especialista em Cultura do Sesi MT.
Esse tipo de trabalho — onde a música e o movimento se tornam portas para que jovens contem suas histórias, se desenvolvam como artistas e cidadãos — evidencia a força do investimento em cultura como via de mudança.
A noite da apresentação
No Teatro da UFMT, o público foi convidado a vivenciar uma convergência única entre técnica, expressão e narrativa cultural. O projeto proporciona às bailarinas e músicos, ainda jovens, a responsabilidade e a liberdade de protagonizar uma experiência artística de alto nível, permitindo que cada apresentação seja também um momento de crescimento pessoal.
“Sou estudante e também danço, então fiz questão de estar aqui hoje. Conheço e admiro muito o trabalho da Orquestra e da Cia SESI de Dança, mas ver de perto é outra experiência. Que espetáculo lindo, uma história belíssima contada com tanta sensibilidade! Mesmo não sendo do sertão — sou paranaense que hoje vive em Mato Grosso — me senti parte dessa narrativa. A arte tem esse poder de acolher e conectar a gente com sentimentos que, às vezes, nem sabemos que carregamos. Saio daqui emocionada e grata. Queremos mais!”, declarou Maria Júlia, 26 anos.
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alta qualidade, com entrada gratuita. Foto: George Dias
A professora Daiane Amaral, 39 anos, reforçou o entusiasmo: “O espetáculo foi simplesmente perfeito, maravilhoso, muito além do que eu esperava. Adorei a integração da orquestra — é incrível! Quando a gente fecha os olhos e se entrega apenas à música, a sensação é única, é realmente perfeita.”
O Sertão Dentro de Nós levou ao palco uma produção de alta qualidade, com entrada gratuita, reafirmando que o acesso à arte e à cultura é um direito e um caminho de transformação. “Para os jovens participantes das iniciativas do Sesi, o palco foi mais do que um espaço de apresentação: foi ponto de partida para a construção de sonhos, talentos e histórias. Projetos como esses mostram que investir em formação artística não significa apenas formar músicos ou bailarinos — significa formar indivíduos capazes de se expressar, se representar e abrir novas possibilidades para o próprio futuro.”, finalizou o superintendente regional do Sesi MT, Alexandre Serafim.
