
Jessica Bernardo/Metrópoles
Moradores da favela do Moinho, no centro de São Paulo, têm sido vítimas de um esquema de extorsão promovido por traficantes e donos de imóveis ligados ao crime organizado. De acordo com relatos obtidos pelo portal Metrópoles, famílias estão sendo coagidas a pagar até R$ 100 mil caso aceitem se mudar para apartamentos populares da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).
Entre os principais responsáveis pelas ameaças está Leonardo Moja, conhecido como Leo do Moinho, apontado como uma das lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) na região. Preso desde 2024, Leo ainda mantém influência local por meio de familiares e intermediários. Os criminosos alegam que a saída dos inquilinos descaracterizaria os imóveis e prejudicaria seu controle sobre a área, exigindo “indenizações” ou parte do valor futuro das moradias.
“A gente está sendo ameaçado: ‘eu vou atrás de você e vou te achar’. Isso não é só comigo, é com várias pessoas. Muitas mães estão com medo. É a situação de não dormir à noite”, relatou uma ex-moradora em denúncia à Polícia Civil.
Segundo a apuração, ao menos quatro famílias confirmaram à reportagem ter sido vítimas de ameaças. Algumas deixaram suas casas silenciosamente durante a madrugada e se recusaram até a aceitar ajuda estatal para o transporte, temendo represálias. Das 405 famílias inicialmente previstas para reassentamento, 222 recusaram os apartamentos da CDHU.
O caso é investigado pela Polícia Civil de São Paulo e também pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, que já ofereceu seis denúncias contra líderes do PCC atuantes no Moinho. Além das extorsões, as investigações revelam que a facção controla desmanches ilegais e monitora canais da polícia com apoio de guardas civis metropolitanos.
Leo do Moinho acumula penas que somam 25 anos de prisão por tráfico de drogas, homicídio e organização criminosa. Ele também foi denunciado na Operação Salut et Dignitas, deflagrada em 2024, quando foi novamente preso após violar liberdade condicional.
O contexto de violência coincide com uma disputa política entre os governos federal e estadual. Em maio, foi anunciado um programa de habitação que destinará R$ 250 mil por família para realocação dos moradores do Moinho, com investimento total de R$ 220 milhões — sendo R$ 160 milhões da União e R$ 60 milhões do estado.
Durante visita à comunidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alfinetou a ausência do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que participava de outro evento: “Agora vocês estão sob cuidados do governo federal”, disse Lula. Tarcísio rebateu: “A gente fez o que ninguém teve coragem de fazer, entrar no Moinho e resolver a equação que não é só habitacional”.