Uma análise publicada na The Lancet Microbe identificou 22 vírus capazes de permanecer no sêmen humano após uma infecção, levantando preocupações sobre potenciais vias de transmissão e implicações para a saúde pública. A pesquisa reuniu dados de centenas de estudos realizados ao longo dos últimos anos.
Vírus encontrados e tempo de permanência
Dos 22 vírus mapeados, apenas nove já tinham evidência consolidada de transmissão sexual, como ebola, hepatite E, mpox, dengue, zika e marburg. Os demais — entre eles coronavírus, febre-amarela, adenovírus e chikungunya — foram detectados no sêmen, mas ainda não há comprovação de que possam ser transmitidos por meio de relações sexuais.
O estudo também apontou diferenças marcantes no tempo de permanência desses vírus no fluido seminal:
- Ebola: detectado por até 988 dias após a recuperação do paciente.
- Dengue: cerca de 1 mês.
- Chikungunya: aproximadamente 2 meses.
- SARS-CoV-2 (Covid-19): cerca de 81 dias.
- Doença da floresta de Kyasanur: cerca de 8 dias.
A presença no sêmen significa transmissão?
Os autores reforçam que detectar um vírus no sêmen não significa necessariamente que ele seja transmitido sexualmente. A transmissão depende de diversos fatores, como carga viral, capacidade de infectar células do trato reprodutivo e condições biológicas individuais.
Além disso, o estudo enfrentou limitações metodológicas: os 373 trabalhos revisados apresentavam grande diversidade de técnicas e populações, o que impede conclusões absolutas sobre risco real de transmissão.
Impacto para a saúde pública
Especialistas apontam que o mapeamento ajuda a identificar vírus negligenciados que podem persistir por longos períodos, permitindo orientar medidas preventivas. Entre as recomendações possíveis estão:
- Uso prolongado de preservativos após infecções específicas.
- Maior vigilância para vírus com potencial epidêmico ou pandêmico.
- Atualização de protocolos de aconselhamento médico para pacientes que passaram por infecções virais.
Conclusão
A pesquisa amplia a compreensão sobre como vírus podem se comportar no corpo humano mesmo após a fase aguda da doença. Embora a presença viral no sêmen não confirme transmissão sexual, o estudo oferece subsídios importantes para estratégias de prevenção, monitoramento e orientação clínica em futuras epidemias.
