
O Brasil vive um momento em que a balança da justiça parece desequilibrada pelo peso do espetáculo ideológico. A mais recente evidência disso veio no mesmo dia: o humorista Léo Lins foi condenado a oito anos de prisão e multa de R$ 300 mil por piadas feitas em 2022, enquanto o funkeiro MC Poze do Rodo, que admitiu em audiência ser integrante do Comando Vermelho, foi solto. A denúncia do contraste veio na coluna Narrativas Antagonistas, da jornalista Madeleine Lacsko.
Para Lacsko, não se trata apenas de uma contradição jurídica, mas de um retrato fiel de uma elite estatal “encastelada num teatro de justiça social que mais humilha do que protege”. A coluna denuncia uma tendência crescente entre parte da esquerda e setores do funcionalismo público brasileiro de tratar criminosos confessos como vítimas sociais, enquanto persegue artistas que desafiam o politicamente correto.
MC Poze, cuja imagem está associada a bailes cercados por traficantes armados e letras que fazem apologia ao crime, tornou-se, segundo a colunista, um “representante cultural das favelas” para alguns setores da mídia e da política. Isso, mesmo diante de denúncias de lavagem de dinheiro, cárcere privado e tortura ligadas à facção criminosa Comando Vermelho.
Enquanto isso, Léo Lins, conhecido por seu humor ácido, foi condenado com base em uma sentença que, segundo a coluna, ignora o contexto de liberdade artística e se sustenta em uma vaga “proteção a grupos minorizados” — sem apresentar vítimas reais. “Qual foi o crime cometido porque o show dele incitou alguém? Qual a consequência real das piadas?”, questiona Lacsko.
A jornalista relembra ainda o caso brutal do jornalista Tim Lopes, assassinado pelo CV há 23 anos, para destacar o absurdo da romantização de criminosos em nome de uma suposta representação cultural. “O criminoso Elias Maluco é idolatrado até hoje por rappers que são protegidos como crianças indefesas pela casta dos justiceiros sociais”, escreve.
Lacsko também alerta para os riscos do julgamento previsto para amanhã no STF, que pode ampliar o poder de censura do Judiciário. Para ela, trata-se de um Judiciário cada vez mais distante do povo, que “dramatiza e inventa crimes em cima do palco”, enquanto ignora o verdadeiro foco do combate à criminalidade: as ruas, os morros e os bastidores do poder.
Ao final, ela ironiza: “O que resta a Léo Lins, como disse o comediante Maurício Meirelles, é deixar de contar piada e entrar para o Comando Vermelho. Parece ser o único jeito de garantir a liberdade no Brasil de hoje”.