
Ana Barros é jornalista em Cuiabá
Os dados da mais recente pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (12), acendem um alerta que vai muito além das manchetes frias: o brasileiro está deixando de se orgulhar do Brasil. Em 2023, 83% diziam sentir mais orgulho do que vergonha da nacionalidade. Hoje, esse índice caiu para 74%. A vergonha, por sua vez, cresceu: saltou de 16% para 24%.
É mais que uma oscilação estatística. É um sintoma.
O mesmo levantamento mostra que o pessimismo em relação ao futuro do país também aumentou. Em setembro de 2023, 47% estavam pessimistas; agora, são 50%. Um salto silencioso, mas significativo, que confirma uma curva ascendente desde 2020, quando esse índice era de 41%. Enquanto isso, os otimistas, que eram 35% no ano passado, recuaram para 31%.
Não é difícil entender por quê. Corrupção que parece eterna, polarização política sufocante, violência cotidiana, crise ambiental, desvalorização da educação e uma democracia que parece viver de sobressaltos — tudo isso corrói o sentimento de pertencimento. Não se trata de uma negação à própria pátria, mas de uma frustração profunda com o que o Brasil tem sido.
É como amar alguém que insiste em nos decepcionar.
O orgulho nacional não é apenas uma emoção patriótica — ele sustenta nossa autoestima coletiva, nos motiva a cuidar do que é nosso, a defender valores, a lutar por melhorias. Quando esse orgulho dá lugar à vergonha, algo está errado — e não é só no Datafolha.
A pesquisa ouviu 2.004 eleitores em 136 municípios nos dias 10 e 11 de junho, com margem de erro de dois pontos percentuais. O retrato que ela pinta é cru e incômodo. Mas necessário. Afinal, só dá pra consertar o Brasil se a gente tiver coragem de encará-lo no espelho.
Pronto, falei.
