
O Papa Francisco, que faleceu no dia 21/4, será lembrado não apenas por sua postura pastoral , mas também por uma revolução silenciosa na forma como o Vaticano lida com o dinheiro. Ao contrário de seus antecessores, ele recusava salário, vivia de forma simples e defendeu uma Igreja mais humilde e transparente na gestão de seus recursos.
Durante seu pontificado, Francisco enfrentou desafios financeiros graves, agravados pela pandemia de Covid-19, e respondeu com medidas duras e simbólicas: reduziu salários do clero, exigiu que cardeais passassem a pagar aluguel em residências do Vaticano e cortou gastos administrativos. A meta era clara: salvar as finanças da Santa Sé e reconectar a Igreja com os valores da simplicidade e do serviço.
“Peço quando preciso”
Em 2023, no documentário Amém: Perguntando ao Papa, Francisco revelou não receber salário fixo. “Quando preciso de dinheiro para comprar sapatos ou algo assim, eu peço. Não me preocupo com isso, pois sei que serei alimentado de graça”, disse o pontífice, reforçando sua confiança na providência e na estrutura de suporte do Vaticano.
Essa postura surpreendeu fiéis e contrastou fortemente com a imagem tradicional de um papado cercado de pompa. Seu próprio funeral seguiu essa linha: cerimônia mais simples, sem ostentação.
Corte de privilégios e choque entre cardeais
A decisão de cobrar aluguel de cardeais — que antes pagavam apenas água e luz — causou desconforto na cúpula da Igreja. Mas para Francisco, a medida era necessária para promover responsabilidade financeira entre os líderes e aliviar o caixa do Vaticano, cada vez mais pressionado pela queda nas doações e aumento dos custos operacionais.
Francisco também criou uma comissão de alto nível para estimular doações, buscando novas fontes de receita para manter projetos sociais e missionários em andamento.
Um legado que vai além do dinheiro
As reformas econômicas de Francisco refletem sua visão de uma Igreja voltada aos pobres, aos marginalizados e ao meio ambiente. Entre seus atos mais emblemáticos estão:
- Ênfase na misericórdia e inclusão: autorizou bênçãos a casais do mesmo sexo e promoveu o perdão para mulheres que realizaram aborto.
- Justiça social e ambiental: sua encíclica Laudato Si’ destacou a urgência de enfrentar as mudanças climáticas e proteger os mais vulneráveis.
- Reformas internas: combateu o clericalismo, promoveu a sinodalidade (escuta coletiva) e defendeu maior descentralização do poder eclesial.
- Diálogo inter-religioso: buscou aproximação com outras religiões, defendendo a paz e a fraternidade universal.
A herança de Francisco
Francisco redefiniu o que significa liderar a maior instituição religiosa do mundo em tempos de crise e desconfiança. Sua recusa em receber salário, o combate a privilégios e a transparência financeira marcaram um novo padrão para os líderes que virão.
Mais do que números, deixou como herança uma Igreja mais próxima dos pobres e mais coerente com o Evangelho que prega.