
Enquanto Cuiabá tenta avançar na redução das mortes no trânsito, um perigo silencioso insiste em crescer nas curvas: as rotatórias da cidade têm se tornado armadilhas fatais, com destaque para as da Avenida das Torres e da Viola de Cocho. A falta de sinalização, iluminação precária, acúmulo de óleo nas pistas e erros de projeto transformaram esses pontos em locais de alta incidência de colisões, principalmente envolvendo motociclistas — o grupo mais exposto e atingido nas estatísticas.
Segundo o Atlas da Violência 2025, Mato Grosso ocupa o 4º lugar nacional em mortes por acidentes com motocicletas, com 14,7 óbitos a cada 100 mil habitantes. Só em 2023, foram registradas 13,5 mil mortes no Brasil envolvendo motos — um aumento de 12,5% em relação a 2022.
🚨 Roteiro de tragédias: acidentes com data, idade e padrão comum
A repetição dos acidentes em Cuiabá revela um padrão preocupante. Os registros mais recentes mostram que as rotatórias concentram colisões violentas, muitas vezes fatais, que poderiam ser evitadas com medidas simples de engenharia e sinalização:
- 6 de fevereiro de 2024 – Nivaldo Miranda da Silva, 58 anos, morreu ao bater a moto contra um caminhão que fazia conversão irregular na Avenida das Torres, no bairro Jardim Imperial.
- 7 de abril de 2024 – Uma mulher não identificada, de moto, foi morta ao ser atingida por um carro em alta velocidade na Avenida Contorno Leste, no bairro Doutor Fábio.
- 12 de julho de 2024 – Um Volkswagen Golf colidiu contra uma palmeira na rotatória da Avenida das Torres, após o motorista perder o controle. Não houve feridos, mas evidenciou a falta de redutores de velocidade.
- 20 de julho de 2024 – Um jovem de 25 anos morreu ao perder o controle da motocicleta na Avenida das Torres, bairro São Sebastião. Foi arremessado a 50 metros da moto.
- 20 de junho de 2024 – Vinícius Rodrigues de Alencar, 22 anos, colidiu contra uma placa de sinalização na mesma avenida e morreu no local.
- Maio de 2025 – Um casal de motociclistas caiu ao colidir com um carro na rotatória da Avenida das Torres com Dante de Oliveira. Não houve mortes, mas o caso reforçou a má visibilidade no cruzamento.
📈 Dados mostram que problema persiste, apesar de queda geral
De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), Cuiabá registra entre 10 e 15 acidentes com moto por dia. Em 2023, foram contabilizadas 85 mortes no trânsito, sendo 46 envolvendo motociclistas. Em 2024, o número total subiu para 88, mas as mortes com motos caíram para 37, conforme o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar.
Apesar de leve queda nos números locais, os dados estaduais mostram um cenário crítico. A motocicleta representa 39% dos acidentes fatais no país. O crescimento da frota de motos, associado à falta de capacitação dos condutores e estrutura urbana deficiente, é visto por especialistas como o principal fator desse agravamento.
⚠️ Viola de Cocho: o outro lado da tragédia
Outra rotatória que vem assustando motoristas é a da Viola de Cocho, entre os bairros Recanto dos Pássaros e Jardim Imperial I e II. Frequentemente afetada por chuvas intensas, o local acumula óleo e água na pista, provocando deslizamentos e quedas de motociclistas.
Em vídeos enviados por moradores, é possível ver motos derrapando e pessoas se machucando. “Está caindo motoqueiro aqui na rotatória da Viola de Cocho. Fiquem espertos que a pista está molhada e estão escorregando“, alertou um motociclista em uma rede social.
Outro denunciante relatou:
“Eu já fui vítima aqui. Quase caí também. Tem óleo demais na pista do contorno da Viola de Cocho.”
A comunidade denuncia a falta de sinalização de risco, limpeza e fiscalização de caminhões que vazam óleo, e cobra ações imediatas.
🛣️ Rotatórias: o ponto cego da engenharia urbana
As rotatórias de Cuiabá, em especial as da Avenida das Torres, Viola de Cocho, e seus entroncamentos com bairros como Jardim Imperial, São Sebastião e Doutor Fábio, apresentam uma série de fragilidades que alimentam os acidentes:
- Jovens com menos de 30 anos são as principais vítimas fatais
- A maioria dos casos envolve motocicletas e carros em alta velocidade
- A sinalização é falha ou ausente, tanto vertical quanto horizontal
- Iluminação deficiente prejudica a visibilidade à noite
- Conversões arriscadas e invasão de preferencial são recorrentes
🗣️ O que dizem as autoridades?
Segundo o tenente-coronel Fábio Ricas, comandante do Batalhão de Trânsito, houve uma redução de 40% nos acidentes em 2024 nas rodovias estaduais da Baixada Cuiabana. Contudo, ele reconhece que o problema persiste no perímetro urbano.
“Estamos avançando nas reduções, mas o comportamento dos condutores, o uso indevido das vias e a ausência de planejamento urbano comprometem o resultado nas regiões mais urbanizadas”, afirmou.
🚧 Propostas urgentes para frear tragédias
Diante do cenário, especialistas defendem ações estruturais e imediatas para conter a escalada de acidentes:
- Implantação de redutores de velocidade antes das entradas das rotatórias
- Reforço na sinalização horizontal e vertical com placas refletivas
- Iluminação constante e potente, especialmente nos trechos mais críticos
- Limpeza regular das pistas para remoção de óleo e detritos
- Fiscalização rigorosa de veículos pesados e motoristas infratores
- Campanhas educativas contínuas, voltadas especialmente para motociclistas