
O retorno triunfal de Lady Gaga ao Brasil após 13 anos não passou despercebido — e não apenas pelo espetáculo visual que tomou conta da praia de Copacabana na noite de sábado (3/5). Com um investimento total de R$ 92 milhões, o megashow gratuito promovido pela cantora norte-americana entra para a história como o mais caro já realizado no país, reacendendo discussões sobre os limites entre promoção cultural e interesses comerciais.
O evento, que deve ter reunido mais de 1,6 milhão de pessoas na orla carioca, teve como patrocinadora principal a empresa de telecomunicações TIM, que liderou a iniciativa como parte da campanha de lançamento do serviço 5G em larga escala no Brasil. A empresa afirma que o investimento é uma aposta estratégica de marketing e relacionamento com o público. A realização do show contou ainda com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, que forneceu parte da infraestrutura de segurança, limpeza urbana e serviços emergenciais.
Apesar do apelo popular e da magnitude do evento, o valor impressionante causou reações diversas. Setores da sociedade civil e especialistas em gestão pública apontam a necessidade de maior transparência sobre os gastos envolvidos, especialmente no que diz respeito à participação do poder público.
Segundo a organização, o show gerou empregos temporários, impulsionou o turismo local e movimentou a economia de bares, restaurantes e hotéis da capital fluminense. A ocupação hoteleira na zona sul chegou a 97%, segundo a ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), e o setor de serviços comemorou uma movimentação financeira superior a R$ 200 milhões no fim de semana do evento.
Entretanto, o gigantismo da produção — com estrutura de festival, palco tecnológico, iluminação de última geração, efeitos especiais e aparato de segurança robusto — levanta questões sobre o impacto ambiental e os riscos à segurança pública em eventos de grande porte.
A própria noite do show foi marcada por momentos de tensão: a área reservada a pessoas com deficiência cedeu após invasões, e o público VIP registrou superlotação. Mesmo assim, fãs e organizadores destacam o espetáculo como um marco cultural e um divisor de águas na realização de shows gratuitos no Brasil.
Lady Gaga abriu o show com a inédita Abracadabra, em uma performance que combinou elementos futuristas com homenagens ao Brasil. Em determinado momento, exibiu as cores da bandeira nacional no figurino, arrancando aplausos do público.
Show de graça, mas com custo
Em tempos de debates sobre orçamento público e prioridades sociais, o show da cantora coloca em evidência o papel de grandes marcas e do Estado na promoção de eventos culturais de massa. Afinal, quando o espetáculo é gratuito para o público, mas custa milhões aos cofres — públicos ou privados —, a pergunta que fica é: quem realmente paga a conta?