
Uma mulher morta a cada três dias: essa é a média de feminicídios registrada em Mato Grosso no mês de junho de 2025, segundo dados divulgados pela Polícia Civil. O cenário é ainda mais alarmante ao se observar o acumulado do ano: 27 vítimas em seis meses — oito casos a mais que os registrados de janeiro a junho do ano passado.
Entre as vítimas, estão nomes que se repetem nas manchetes por todo o estado: Gleici Keli Geraldo de Souza, Janaina Carla Portela Santin, Crisalda Conceição Sousa, Roseni da Silva Karnoski, entre outras. Em comum, todas elas foram mortas por companheiros ou ex-companheiros que não aceitaram o fim do relacionamento ou agiram por ciúmes — crimes marcados por brutalidade e covardia.
Para o secretário de Estado de Segurança Pública, coronel César Augusto Roveri, os crimes refletem uma raiz cultural ainda presente na sociedade brasileira. “Isso vem desde a criação de crianças. Precisamos ensinar desde cedo que não se agride uma mulher. Só assim formaremos adultos que respeitam”, declarou.
O coronel também afirmou que o Estado tem investido em políticas públicas e ampliado a rede de proteção às vítimas. “Temos plantões 24h em Cuiabá e Rondonópolis, delegacias especializadas, além de salas de acolhimento da mulher. Treinamos todo o efetivo policial para lidar com essas ocorrências”, pontuou.
Apesar dos esforços, o aumento das ocorrências evidencia que as medidas ainda não têm surtido o efeito necessário. Nem mesmo o Pacote Antifeminicídio, aprovado no Congresso no início do ano — que tornou o feminicídio um crime autônomo e aumentou as penas para crimes relacionados à violência de gênero — tem conseguido conter os assassinos.
Os casos mais recentes
O mês de junho foi particularmente sangrento. Entre os casos mais emblemáticos:
- Vânia Cristina Benini, 40 anos, grávida de seis semanas, foi esfaqueada 39 vezes em Ribeirãozinho.
- Maria Aparecida Gonçalves da Silva, 39, foi encontrada morta em Água Boa; o marido é o principal suspeito.
- A psicóloga Janaina Carla Portela Santin, 43, foi assassinada em Sinop; o marido tentou alegar suicídio.
- Paulina Santana, 52, morreu após ser agredida pelo ex-marido, em Vera.
- Em Alto Boa Vista, Crisalda Sousa, 32, foi morta a facadas pelo companheiro.
- Maria Selma Rocha, 51, foi encontrada enterrada no quintal de uma casa em Rondonópolis.
- Gleici Keli Geraldo, 42, foi assassinada pelo marido, que ainda tentou matar a filha do casal.
- Roseni Karnoski, 52, foi baleada na zona rural de Nova Mutum; o marido alegou acidente.
- Uma adolescente de 16 anos foi morta pelo companheiro em São José dos Quatro Marcos, que também matou o suposto amante da jovem.
- Em Jaciara, Andréia Ferreira de Souza, 31, foi assassinada a facadas por um ex-companheiro enciumado.
Em praticamente todos os casos, os agressores foram presos em flagrante — alguns ainda tentaram tirar a própria vida ou enganar as autoridades com versões falsas. No entanto, para especialistas e defensores dos direitos das mulheres, prender o assassino após o crime é uma resposta tardia diante de um ciclo de violência que poderia ser interrompido com mais prevenção, proteção e educação.
