
O Brasil registrou 45.716 casos de estupro contra homens entre 2020 e 2024, de acordo com dados compilados nos sistemas de segurança pública. Apesar de homens ainda representarem uma minoria entre as vítimas (11,8%), o crescimento dos casos tem chamado atenção: em 2024, o número chegou a 10.603 — o maior da série histórica recente.
O crescimento foi de 29,4% em comparação com os 8.188 casos registrados em 2020.
O cenário continua alarmante em 2025. Janeiro deste ano já bateu um novo recorde, com 1.117 notificações de violência sexual contra homens, o maior número já registrado para esse mês desde 2020.
Dados ano a ano (Janeiro):
- 2020: 832 casos
- 2021: 819 casos
- 2022: 629 casos
- 2023: 753 casos
- 2024: 844 casos
- 2025: 1.117 casos
Apesar do aumento expressivo, os homens continuam sendo minoria entre as vítimas de estupro no Brasil. Entre 2020 e 2024, 339.598 mulheres sofreram esse tipo de violência, representando 88,1% dos registros.
Silêncio e medo ainda predominam
A maior parte dos homens vítimas de violência sexual não denuncia, não busca apoio psicológico e, muitas vezes, sequer se reconhece como vítima. Foi observando essa realidade que o psicólogo Denis Ferreira fundou, em 2020, a ONG Memórias Masculinas, especializada em acolher e atender homens que sofreram esse tipo de violência.
“Eu percebi que muitos dos meus pacientes homens só falavam do abuso depois de várias sessões de terapia. Em geral, vinham por outros motivos e só depois revelavam o trauma da violência sexual”, relata Ferreira.
Desde a fundação, a ONG recebeu 400 pedidos de atendimento, mas apenas 50% dos homens de fato passaram pelo processo terapêutico. O restante não retornou o contato ou desistiu antes mesmo da primeira sessão.
Cultura do silêncio
Denis aponta alguns motivos que dificultam a busca por ajuda. Um deles é o fato de que a maioria dos abusos contra homens são cometidos por outros homens, o que gera receios ligados a estigmas de homossexualidade, em especial entre os que sofreram violência na infância ou adolescência.
Outro ponto é o papel social atribuído aos homens como figuras que devem ser fortes, autossuficientes e protetoras.
“A violência é percebida como uma fragilidade. O homem sente que falhou ao não conseguir se defender — mesmo quando, obviamente, a culpa é do agressor e nunca da vítima”, afirma o psicólogo.
Falta de educação sexual e identificação
Outro obstáculo é a ausência de educação sexual voltada para a proteção pessoal e reconhecimento de abusos. Muitos homens sequer reconhecem que foram vítimas — especialmente quando o agressor é uma mulher.
“Eles têm dificuldade em perceber que também existe violência sexual praticada por mulheres. Isso dificulta o pedido de ajuda, e perpetua o trauma em silêncio”, explica Denis Ferreira.
Onde buscar apoio
Casos de violência sexual podem ser denunciados de forma anônima pelo Disque 100 ou diretamente nas delegacias e unidades de saúde. A ONG Memórias Masculinas oferece plantão psicológico gratuito e psicoterapia breve para vítimas do sexo masculino.