
Para a Fiemg, o principal problema está na redução da jornada sem ganhos equivalentes de produtividade.
Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), divulgado nesta quarta-feira (16), alerta para os impactos econômicos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa extinguir a escala de trabalho 6×1 no Brasil. De acordo com a entidade, a medida pode colocar em risco até 18 milhões de empregos no país e provocar perdas de R$ 2,9 trilhões no faturamento de setores produtivos.
A proposta foi apresentada em fevereiro pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) e prevê o fim da jornada de seis dias de trabalho com um de descanso, adotando modelos alternativos como quatro ou cinco dias de expediente por semana. O texto ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Para a Fiemg, o principal problema está na redução da jornada sem ganhos equivalentes de produtividade. “Antes de discutir menos horas de trabalho, o Brasil precisa enfrentar seu maior desafio: a baixa produtividade. Hoje, um trabalhador brasileiro produz, em média, apenas 23% do que um norte-americano”, afirma Flávio Roscoe, presidente da federação.
Cenários de impacto
O levantamento analisou dois cenários:
- Sem aumento de produtividade: até 18 milhões de empregos podem ser eliminados, com queda de R$ 480 bilhões na massa salarial.
- Com aumento de 1% na produtividade: perda estimada de 16 milhões de postos de trabalho e impacto negativo de R$ 428 bilhões na renda dos trabalhadores.
Além disso, Roscoe ressalta que os custos extras com contratações para cobrir jornadas menores podem ser repassados aos consumidores, pressionando preços e atingindo diretamente os pequenos negócios.
“Imagine um restaurante que hoje funciona com dois garçons. Se a jornada for reduzida, o dono terá que contratar mais um funcionário. Esse custo vai inevitavelmente pesar no bolso do cliente”, exemplifica.
Outro ponto de preocupação é o possível aumento da informalidade, que já atinge 38,3% dos trabalhadores brasileiros. Segundo a Fiemg, pequenas e médias empresas terão mais dificuldade para se adaptar ao novo modelo, o que pode levar à redução de operações ou contratações sem vínculo formal.
Competitividade internacional em jogo
A federação também chama atenção para a perda de competitividade internacional. Países como China, Índia, México e Vietnã mantêm jornadas de trabalho mais longas e custos menores, o que pode atrair investimentos externos em detrimento da indústria brasileira.
Enquanto isso, parlamentares e movimentos sociais favoráveis à PEC se organizam para realizar manifestações em todo o país no próximo 1º de maio, Dia do Trabalhador, para pressionar pela aprovação do texto.