
Suas posições desafiaram estruturas internas, incomodaram setores conservadores e, ao mesmo tempo, reaproximaram muitos que se sentiam à margem da fé.
O primeiro papa latino-americano, o mais progressista em séculos. Assim será lembrado Papa Francisco, que morreu na madrugada desta segunda-feira (21/4), aos 88 anos, após complicações de saúde decorrentes de uma pneumonia dupla. Sua morte encerra um pontificado iniciado em 2013, marcado por reformas simbólicas, mensagens inclusivas e gestos de rara empatia.
Líder da Igreja Católica desde 2013, encerra um dos pontificados mais controversos das últimas décadas, marcado por tensões entre alas conservadoras e progressistas da Igreja.
Mesmo debilitado, o pontífice argentino ainda participou de eventos recentes no Vaticano, incluindo a tradicional bênção de Páscoa na Praça de São Pedro, no último domingo (20). Na ocasião, fez um apelo aos líderes mundiais por mais solidariedade e menos medo, reforçando a mensagem social que caracterizou sua liderança.
Francisco será lembrado por ter rompido com várias tradições doutrinárias da Igreja Católica. Entre suas decisões mais impactantes está a autorização, em dezembro de 2023, para que padres pudessem abençoar casais do mesmo sexo. A medida, vista como uma abertura sem precedentes, gerou forte resistência dentro do Vaticano e de cardeais influentes ao redor do mundo.
Na tentativa de equilibrar posições, o papa permitiu que padres se recusassem a realizar as bênçãos, mas proibiu que qualquer fiel fosse impedido de buscar a ajuda divina, independentemente de sua situação. O gesto, considerado simbólico por alguns e preocupante por outros, expôs a crescente divisão interna dentro da Igreja.
Francisco também usou sua posição para se manifestar sobre temas seculares. Em 2015, publicou a encíclica Laudato Si’, criticando o consumismo e alertando para a crise ambiental, numa postura que uniu espiritualidade e ativismo ambiental, mas que nem sempre encontrou ressonância entre os católicos mais tradicionais.
Apesar de uma popularidade visível entre fiéis mais jovens e progressistas, seu papado enfrentou críticas severas de setores conservadores da Igreja, que viram em suas reformas uma ameaça à doutrina tradicional milenar. Ele foi criticado, por exemplo, por evitar posicionamentos firmes sobre questões como aborto e celibato, e por promover uma postura mais inclusiva, às vezes vista como relativista.
Sua atuação diplomática também ganhou destaque ao intermediar, em 2014, uma tentativa de reaproximação entre Estados Unidos e Cuba — um esforço que perdeu fôlego com a chegada de Donald Trump à presidência americana.
Com a morte de Francisco, a Igreja Católica se vê novamente diante de um momento decisivo. O conclave que elegerá seu sucessor poderá sinalizar se a instituição seguirá na trilha de reformas iniciadas por ele ou se voltará a um caminho mais tradicional, buscando apaziguar as divisões internas que marcaram os últimos 12 anos.