
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) está no centro de uma nova polêmica: transformou dois maquiadores em assessores parlamentares, com salários de até R$ 9,7 mil. A revelação, feita inicialmente pelo portal Metrópoles e confirmada pela Folha, escancarou um ponto sensível na política brasileira: a linha tênue entre confiança pessoal e qualificação técnica no uso de verba pública.
Os contratados são Ronaldo Hass e Indy Montiel, profissionais da beleza que se tornaram rostos frequentes ao lado da deputada em eventos e bastidores. Além da maquiagem – que ainda fazem ocasionalmente –, passaram a receber salários com dinheiro público por exercerem funções como “relatórios, briefings e articulações políticas” ligadas a pautas LGBTQIA+.
Apesar de Erika Hilton afirmar que “não contrata maquiadores com verba de gabinete”, os próprios perfis dos assessores nas redes sociais revelam uma sobreposição de funções, com registros recentes de produção de imagem da parlamentar em datas em que já ocupavam cargos no gabinete.
A fronteira entre talento e apadrinhamento
Hilton se defende dizendo que identificou “outros talentos” nos maquiadores e decidiu integrá-los à sua equipe. Segundo ela, a contratação vai além da estética e envolve engajamento político real. A resposta, no entanto, não impediu uma onda de críticas.
Para adversários políticos, trata-se de um exemplo de uso questionável da verba pública, com profissionais da confiança pessoal ocupando cargos estratégicos sem apresentar currículos robustos na área pública.
A discussão ganha ainda mais força por se tratar de uma figura emblemática da política identitária. Erika Hilton foi uma das primeiras mulheres trans eleitas ao Congresso Nacional e, desde então, tem sido alvo recorrente de ataques transfóbicos. A deputada vê na polêmica uma tentativa de perseguição e minimização de seu mandato:
“Gente que você vai fazer uma maquiagem e percebe que faria um trabalho melhor do que equipes inteiras”, provocou nas redes.
Assessores ou produtores de imagem?
As postagens de ambos os assessores continuam destacando suas atividades no ramo da beleza, indicando que, mesmo com cargos formais no gabinete, a função estética não deixou de ser prioridade. A última maquiagem registrada por Ronaldo foi para um ensaio da escola de samba Tuiuti. Montiel aparece maquiando Erika na ocasião em que recebeu a Ordem do Rio Branco.
A pergunta que muitos fazem é simples: se os profissionais ainda exercem funções ligadas à imagem e à maquiagem da deputada, é legítimo que sejam pagos como assessores parlamentares? Ou isso camufla o uso indevido de cargos públicos para fins pessoais?
O que está em jogo
A polêmica expõe um problema estrutural no sistema de nomeações em gabinetes parlamentares, onde a subjetividade na escolha de cargos comissionados pode favorecer a confusão entre afinidade pessoal e competência técnica.
Enquanto uns defendem a autonomia parlamentar na composição das equipes, outros apontam para o abismo entre o discurso progressista e a prática administrativa, com gastos públicos sendo direcionados a funções pouco claras ou mal justificadas.
A dúvida que paira no ar: se a maquiagem é eventual, o trabalho parlamentar é real? Ou estamos maquiando a função pública?
