
A juíza Giovana Pasqual de Mello, da 4ª Vara Cível de Sinop, recomendou que o Grupo Safras, que tem entre seus sócios o ex-prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato, apresente um pedido de recuperação judicial no prazo de 15 dias. A decisão foi publicada no Diário Eletrônico de Justiça nesta quarta-feira (26/03) e ocorreu após a magistrada negar o pedido do Grupo para a concessão do chamado “stay period”, que busca proteger o patrimônio de empresas em crise contra ações de execução.
O Grupo Safras havia solicitado a suspensão de quaisquer medidas que pudessem comprometer suas operações, incluindo bloqueios, retiradas, reintegração de posse e busca e apreensão. Em especial, pleiteava a suspensão da ordem de desocupação de uma planta industrial no Distrito Industrial de Cuiabá, pertencente à falida Olvepar e operada pelo Grupo há mais de quatro anos. Apesar de alegar estar em dia com os pagamentos (R$ 1,4 milhão mensais), a Safras foi notificada na semana passada sobre a necessidade de desocupação do imóvel em três dias.
A juíza negou a tutela cautelar, justificando que não ficou demonstrado que a Allos Participações (arrendatária original da planta) e a Carbon Participações Ltda. (adjudicatária do imóvel) possuíam crédito vencido contra a Safras. “Nesse cenário, inexiste relação obrigacional inadimplida que caracterize conflito com credores passíveis de negociação preventiva”, afirmou a magistrada na decisão. Ela destacou ainda que não foram preenchidos os requisitos legais para a concessão da medida excepcional, conforme exige o artigo 20-B da legislação.
Dívida bilionária e crise financeira
A possibilidade de recuperação judicial do Grupo Safras vem sendo cogitada desde meados de 2024, devido às dificuldades financeiras enfrentadas pelas empresas do conglomerado. Estima-se que o grupo tenha uma dívida de aproximadamente R$ 2 bilhões, com dificuldades para cumprir seus compromissos financeiros.
O próprio Grupo reconheceu que enfrenta desafios desde 2023, atribuídos à queda nos preços da soja, à aquisição da Copagri (que trouxe passivos financeiros), à implementação problemática de um novo sistema de gestão e às restrições de crédito no setor agroindustrial. Além disso, diversas ações de cobrança levaram à penhora de milhares de toneladas de soja, totalizando um passivo de R$ 144 milhões.
No início de março, o site The AgriBiz noticiou que Dilceu Rossato e Pedro de Moraes Filho, sócio majoritário do grupo, não teriam plena consciência da gravidade da situação financeira. Segundo a reportagem, a fusão com a Copagri teria sido desorganizada, com falhas no sistema de gestão que dificultaram o controle financeiro e a administração de caixa.
Atualmente, o Grupo Safras é composto pela Safras Indústria e Comércio de Biocombustíveis, Copagri – Comercial Paranaense Agrícola Ltda. e Safras Armazéns Gerais Ltda. Diante da recomendação judicial, resta ao conglomerado decidir se ingressará com o pedido de recuperação judicial nos próximos 15 dias para tentar reestruturar suas finanças e evitar uma crise ainda mais profunda.