
Em um marco sem precedentes na história judicial dos Estados Unidos, um homem assassinado foi “ressuscitado” por meio de inteligência artificial (IA) para entregar uma declaração diretamente ao seu assassino durante o julgamento. O caso ocorreu na semana passada no estado do Arizona.
Chris Pelkey, veterano do Exército dos EUA, foi morto a tiros por Gabriel Horcasitas após uma discussão provocada por um acidente de trânsito em 13 de novembro de 2021. Ele tinha 37 anos. Durante a audiência de sentença, uma versão digital de Pelkey, criada com IA, apareceu em vídeo para se dirigir ao réu.
“É uma pena que nos tenhamos encontrado naquele dia nessas circunstâncias”, disse a voz gerada por IA de Pelkey. “Em outra vida, provavelmente poderíamos ter sido amigos. Eu acredito no perdão e num Deus que perdoa.”
A ideia partiu de Stacey Wales, irmã da vítima, ao reunir relatos de amigos e familiares para serem apresentados em tribunal. Ao notar a ausência da voz do próprio irmão entre os testemunhos, ela teve a iniciativa de recriá-la com a ajuda do marido e de um amigo, utilizando ferramentas de inteligência artificial.
“Ver o rosto dele e ouvir a voz dele dizendo isso… Ondas de cura invadiram minha alma. Porque aquele era o homem que eu conhecia”, afirmou Stacey.
O juiz responsável pelo caso, Todd Lang, elogiou a inovação e a mensagem transmitida. “Eu adorei aquela IA, obrigado por isso. Por mais bravos que vocês estejam, por mais justificadamente bravos que os parentes estejam, eu ouvi o perdão”, disse o magistrado durante a sessão.
Gabriel Horcasitas foi condenado a 10 anos e meio de prisão por homicídio culposo — quando não há intenção de matar. A iniciativa, ainda que controversa para alguns, abre uma nova fronteira no uso da tecnologia em processos judiciais, ao oferecer uma forma simbólica, porém poderosa, de dar voz às vítimas que já não podem falar por si.