
O jornalista Camilo Vannuchi, autor da biografia “Marisa Letícia Lula da Silva”, avaliou que a declaração de Lula foi contraditória com sua própria história e pareceu uma tentativa de “amainar a barra da atual esposa”
A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que sua esposa, Rosângela da Silva, conhecida como Janja, “não nasceu para ser dona de casa”, gerou descontentamento em seu filho caçula, Luís Cláudio Lula da Silva. Segundo apuração do UOL, Luís Cláudio interpretou a fala como uma crítica indireta à sua mãe, Marisa Letícia, que desempenhou o papel de dona de casa durante os primeiros mandatos presidenciais de Lula.
Marisa Letícia deixou o mercado de trabalho ao engravidar de seu segundo filho, o primeiro com Lula, dedicando-se integralmente à família enquanto seu marido ocupava a Presidência. A declaração de Lula foi uma resposta às críticas sobre a participação ativa de Janja em eventos internacionais, como a Cúpula Nutrição para o Crescimento, realizada em Paris.
Aliados do presidente apontam que Lula buscou exaltar a postura profissional de Janja, que frequentemente é comparada a Marisa devido ao seu perfil mais discreto. Uma liderança petista mencionou que era comum Marisa questionar a necessidade de acompanhar Lula em viagens internacionais.
O jornalista Camilo Vannuchi, autor da biografia “Marisa Letícia Lula da Silva”, avaliou que a declaração de Lula foi contraditória com sua própria história e pareceu uma tentativa de “amainar a barra da atual esposa”. Ele ressaltou que Marisa, apesar de ser dona de casa, teve grande influência sobre o marido e nunca foi subserviente ou submissa.
A tensão entre Luís Cláudio e o pai em relação à preservação da memória de Marisa Letícia não é recente. Em fevereiro de 2024, Luís Cláudio demonstrou insatisfação com uma publicação no perfil oficial de Lula no X (antigo Twitter) que omitia a participação de sua mãe na criação do símbolo do PT. Na ocasião, ele expressou: “Infelizmente, têm acontecido umas coisas estranhas! A história da minha mãe ninguém apaga, não”.
Desde o início de seu terceiro mandato, Lula tem enfatizado a presença ativa de Janja como primeira-dama. Ela participa de eventos, defende pautas como o combate à fome e a igualdade de gênero, e mantém uma relação próxima com a militância petista e as redes sociais. Essa postura tem gerado reações diversas dentro do partido e entre apoiadores, com alguns valorizando seu engajamento e outros considerando sua participação excessiva.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, defendeu Janja, atribuindo as críticas à misoginia. O advogado de Janja, Marco Aurélio de Carvalho, também saiu em defesa de Lula, afirmando que o presidente não teve a intenção de diminuir o papel das donas de casa e que sua preocupação era com as críticas direcionadas à atual primeira-dama.
A cientista política Larissa Peixoto observou que Janja será criticada independentemente de suas ações, refletindo a pressão constante sobre as primeiras-damas.
A relação entre Janja e os filhos de Lula, especialmente Luís Cláudio, continua sendo um tema delicado, evidenciando as complexidades das dinâmicas familiares e políticas no entorno do presidente.